A série Destiny revolucionou os jogos de tiro em primeira pessoa (FPS) ao incorporar o conceito de “mundo compartilhado”. Ou seja, todos os jogadores jogam num mesmo mundo persistente e podem realizar atividades conjuntamente ou ainda se enfrentarem em instâncias jogador x jogador (PvP). Aliado a isso, a franquia também possui elementos de RPG, tais como classes, evolução de personagem, coleta de itens, interação com NPCs, entre outros. Por conta disso, alguns consideram o estilo desses jogos como uma mescla entre os MMORPGs e os FPS.

A nossa proposta hoje é mostrar como aproveitar a rica história e ambientação tecno-fantástica dos jogos Destiny numa mesa de RPG, sugerindo exemplos de plots e dando dicas de como adaptar os eventos do jogo para uma perspectiva não necessariamente centrada em combates. Num próximo artigo apresentaremos também uma adaptação completa das classes de Destiny para o D&D 5ªed.

Antes de mais nada, vamos contar um pouco da história para aqueles que não conhecem ou têm pouca familiaridade com a “lore”do jogo.

O Viajante e a Era Dourada

No final do século 21 é descoberto em Marte uma imensa esfera branca pairando sobre o planeta vermelho. Conhecido apenas como “O Viajante”, ele é uma espécie de entidade alienígena senciente, cuja origem e propósitos são desconhecidos. Apesar da grande desconfiança da missão enviada para estabelecer o primeiro contato, essa entidade se mostrou extremamente benevolente com a humanidade.

Nas décadas seguintes o Viajante compartilha parte de seus vastos conhecimentos tecnológicos, permitindo, entre outras maravilhas, que a humanidade consiga terraformar diversos planetas e luas do sistema solar, estabelecendo colônias fora da Terra, desde Mercúrio até Marte, além de algumas luas dos gigantes gasosos, como Titã e Io.

A humanidade também recebe conhecimentos avançados de engenharia genética, que permitem prolongar a vida. Na área de IA (inteligência artificial) os conhecimentos adquiridos levam ao desenvolvimento de um projeto militar secreto que cria uma espécie humanóide robótica senciente, os chamados Exos. Mas o ápice tecnológico-militar é alcançado mesmo com a construção de um rede de satélites de defesa, controlados por poderosas inteligências artificiais, conhecidas como Mentes Bélicas.

Além do conhecimento tecnológico, o Viajante também transmitiu conhecimentos considerados por muitos como “místicos”, que podem simplesmente ser manifestações de uma tecnologia muito além da compreensão humana (seria uma espécie de hipertecnologia?).

Essa era de grandes criações tecnológicas, extensa exploração do sistema solar e de renovado misticismo ficou conhecida como A Era Dourada.

A Treva e O Colapso

A Era Dourada chega ao fim com um evento conhecido como “O Colapso”, que foi o ataque de outra entidade alienígena, A Treva. Inimiga do Viajante, a Treva sempre o perseguiu pelo cosmos, tentando destruí-lo. Ironicamente, o maior benfeitor da humanidade quase foi também a causa de sua extinção.

Ao contrário do Viajante, a Treva nunca se apresentou diretamente. Ela emprega outras raças alienígenas poderosas, que a servem e cultuam como se ela fosse uma divindade. As raças conhecidas que atacaram a humanidade foram os Vex, A Colméia e os Possuídos.

Uma das Mentes Bélicas, conhecida como Rasputin, ante o ataque iminente da Treva calcula que será incapaz de derrotá-la, desativando-se na expectativa de ser poupada e vir a ser reativada no futuro.

As colônias humanas caem uma após a outra, até que a última resistência da humanidade recua para a Terra. O Viajante, em uma última resistência heróica consome boa parte de sua misteriosa energia conhecida apenas como “Luz”, destruindo os invasores e afastando a Treva para fora do Sistema Solar. Os humanos que fugiam da Terra nesse momento e foram atingidos por essa incrível liberação de Luz se tornam uma nova espécie, os Despertos, que se refugiam num local do Cinturão de Asteróides conhecido como Arrecife.

O Viajante, enfraquecido, entra então num estado dormente, pairando sobre a Terra. Sob a sombra do Viajante os poucos sobreviventes fundam a Última Cidade, numa tentativa de reerguer a humanidade das cinzas da guerra entre a Luz e a Treva.

Num último esforço de ajudar a humanidade, o Viajante envia fragmentos da Luz que lhe resta incorporada em pequenos drones sencientes, os Fantasmas, para diversos lugares na Terra. Os Fantasmas têm a missão de encontrar pessoas mortas que foram indivíduos em vida dotados de excepcional força, inteligência e disciplina. Através do poder da Luz os Fantasmas são capazes de ressuscitar essas pessoas, que se tornam poderosos heróis investidos de Luz, Os Guardiões.

Aos Guardiões é confiada a proteção da Última Cidade e de quaisquer sobreviventes do Colapso.Porém, a reconstrução da humanidade não será tarefa fácil, pois várias das antigas colônias terrestres foram ocupadas não só por servos da Treva mas também por outras raças alienígenas hostis, os Decaídos e os Cabais. O grupo que lidera os Guardiões é formado por membros de elite, e é conhecido como A Vanguarda.

Ficção ou fantasia?

O universo de Destiny é uma interessante mescla de elementos da fantasia com tecnologia, o que cria um cenário de ficção fantástica bastante único. Embora você não vá encontrar magos estudiosos de tomos antigos que lançam bolas de fogo, o conceito da Luz é algo extremamente místico, pois concede aos Guardiões “super habilidades” que se manifestam com um aspecto elemental (as habilidades solares, de vácuo e de arco voltaico), ainda que estejam associadas a equipamentos como espadas, martelos e escudos.

A palavra final quanto ao que é tecnologia e o que é misticismo caberá ao mestre. Ele pode definir que tudo possui origem e explicação tecnológica (ainda que seja uma tecnologia além da compreensão da humanidade) ou que a magia existe de fato e pode ser estudada e compreendida pelos Arcanos e outros pesquisadores do oculto.

Independente da explicação por trás dos efeitos “mágicos”, a estética do cenário não se altera. O martelo de um Titã pode ser um campo coerente de energia criado por um catalisador fásico ou um martelo místico feito de pura Luz – no final seus efeitos e aspecto são os mesmos.Algumas raças são obviamente tecnológicas (como os Vex) enquanto outras parecem mais criaturas fantásticas saídas do Livro dos Monstros (como a Colméia). O fato é que mesmo nos jogos eletrônicos não está bem claro o limite entre a fantasia e a ficção científica.

Os Personagens Jogadores

A ideia mais convencional é os jogadores criarem personagens Guardiões, pois eles são os heróis mais poderosos, encarregados das missões mais arriscadas e que possuem melhores chances de sobreviver a um encontro com raças alienígenas mortais.

Um alternativa interessante e mais desafiadora, que pode dar aos jogadores uma perspectiva bem diferente do que eles esperariam, é permitir que criem personagens de classes comuns de D&D. Alguns personagens do mundo de Destiny se encaixam bem nesses estereótipos: Sloane (guerreira), Hawthorne (patrulheira) e o Irmão Vance (clérigo) são alguns exemplos.

Uma opção ainda mais radical é colocar os jogadores interpretando pessoas comuns que tentam apenas sobreviver num mundo pós-apocalíptico infestado de alienígenas assassinos. Dada a grande chance desses personagens morrerem na primeira sessão de jogo, isso pode inclusive servir de gancho para a criação de novos Guardiões: assim que um personagem morrer um Fantasma pode encontrá-lo e ressuscitá-lo como um Guardião.

E a sua missão é …

Embora os jogos de Destiny sejam muito mais focados em elementos de jogos de tiro do que RPGs, o seu universo é suficientemente complexo e interessante para permitir diversos tipos de aventuras que vão além do clássico matar-pilhar-destruir. Vamos ver então alguns exemplos de tipos de missões mais comuns que os mestres podem propor em seus jogos de Destiny.

Vilão da Semana: de longe o tipo de missão mais comum que os jogadores enfrentam nos jogos eletrônicos. Geralmente surge um “líder” de alguma das facções alienígenas que possui algum plano para destruir / corromper / controlar O Viajante / A Última Cidade / a humanidade / algum importante artefato. Alguns exemplos foram Crota (Príncipe da Colméia), Oryx (Rei dos Possuídos), Ghaul (Imperador Cabal) e Xol (Deus Vermicular).

Esse tipo de missão não precisa ter necessariamente como objetivo matar o vilão, eliminando toda resistência encontrada no caminho. Pode ter algum objetivo mais sutil, como sabotar suas forças, capturá-lo, espioná-lo ou ainda plantar falsas informações de modo que ele entre em conflito com outra facção. Mesmo que o objetivo seja a eliminação, podem existir alternativas mais interessantes que não envolvam poder de fogo. Um exemplo seria os jogadores terem de se infiltrar num complexo Vex para implantar um vírus visando corromper o núcleo de memória de uma poderosa Hydra.

Busca e Salvamento: o Sistema Solar está repleto de lugares misteriosos que escondem segredos da Era Dourada. Algumas possibilidades: ruínas na Zona Morta Européia, O Jardim Negro, A Floresta Infinita de Mercúrio, a Arcologia de Titã, a Mente Bélica de Marte, A Câmara de Cristal em Vênus e o planetóide Nesso. O objetivo pode ser recuperar alguma tecnologia, artefato ou simplesmente um conhecimento perdido da Era Dourada, que pode garantir alguma vantagem para a Última Cidade, em sua luta contra as forças da Treva.

Nessa categoria também podem se enquadrar as missões de resgate: podem ser outros Guardiões que se meteram em dificuldades ou até mesmo uma colônia de sobreviventes que conseguiram se refugiar em algum lugar esquecido do Sistema Solar.

Esse tipo de missão é focada em exploração e descoberta de novos lugares, que podem esconder perigos desconhecidos.

Combate: se os jogadores quiserem realmente pôr à prova suas habilidades de combate, esse é o tipo de missão para eles. No universo de Destiny a humanidade está em constante guerra contra forças hostis, que espreitam em todos os lugares. Os jogadores podem participar de uma ofensiva para eliminar os alienígenas de uma localidade, destruir instalações / veículos inimigos ou ainda guarnecer uma posição defensiva e resistir a ataques de uma força superior.

Qualquer que seja o caso, para evitar uma aventura somente de rolagens de ataques e dano, o mestre pode exigir que os jogadores planejem cuidadosamente suas estratégias antes de realizar um ataque, sob o risco de serem esmagados por uma superioridade numérica, extremamente provável frente aos grandes exércitos inimigos (lembre-se, por exemplo, que os Vex tem a capacidade de abrir portais e garantir um fluxo praticamente ininterrupto de tropas num campo de batalha).

Quando estamos?

Uma última questão que os mestres devem definir numa aventura de Destiny é o momento em que a história se passará. Embora a história dos jogos transcorra no século 29, sem datas específicas, é importante definir o período em função de alguns marcos importantes, que definem eventos que afetaram as colônias e a própria Cidade.

Alguns exemplos de marcos que podem ser utilizados para situar a aventura são: A Guerra dos Possuídos, iniciada na Batalha de Saturno; A Guerra Vermelha, iniciada com um ataque massivo contra a Última Cidade e o Viajante; e o Despertar da Mente Bélica Rasputin, que se torna um poderoso aliado da Vanguarda. Uma boa fonte de consulta para esses eventos é a linha do tempo da Destinypedia.

No próximo post sobre Destiny traremos as classes básicas do jogo e algumas armas e equipamentos para sua primeira aventura.

Até a próxima!

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— [ATUALIZAÇÃO] —

Abaixo segue a lista completa de posts da nossa adaptação do jogo Destiny, utilizando as regras da 5ª edição do D&D.

Parte 1: A história do game

Parte 2: Começando as classes básicas, com o Titã

Parte 3: A classe Caçador

Parte 4: A classe Arcano

Parte 5: Armas, armaduras e equipamentos

Parte 6: Inimigos: Os Decaídos (The Fallen)

Parte 7: Inimigos: Os Cabais

Parte 8: Inimigos: A Colmeia

Parte 9: Inimigos: Os Vex