D&D 5e no Brasil
Quinta edição do D&D em português chega envolvida em escândalo.
Por: Ghost | 24/03/2017
Caso você esteja chegando agora no mundo do RPG, um breve histórico sobre D&D, o que o jogo e a marca representam para o hobby e um resumo da complicada história do jogo no Brasil.
A primeira edição de D&D foi criada conjuntamente por Dave Arneson e Gary Gygax na cidade de Lake Geneva, WI, nos Estados Unidos e foi publicado pela primeira vez em 1974. De lá para cá aquele que se tornaria praticamente um sinônimo de RPG (quase como Gilette™ é um sinônimo de lâminas de barbear) ganhou diversas mudanças em uma série de edições e reformulações.
A primeira edição do jogo traduzida para o idioma de Camões foi o Basic Set de D&D, que chegou ao Brasil pela GROW em 1993, mas de forma bastante tímida (o jogo era vendido como um brinquedo, mas tinha a vantagem de poder ser encontrado em supermercados ou grandes magazines). Já o AD&D (Advanced Dungeons & Dragons) 2ª Edição foi trazido ao nosso país pela editora Abril em 1995. É possível que muitos de vocês que estão lendo esse artigo nem fossem nascidos naquela época, mas acreditem no Ghost: era um tempo muito diferente. O RPG estava ainda engatinhando no Brasil, e os principais representantes do hobby eram “Vampiro: a Máscara” e GURPS (ambos publicados pela DEVIR na época). Nesse cenário a Abril vislumbrou um “boom” (que nunca viria a ocorrer, infelizmente) e entrou de cabeça no mercado, publicando tanto os livros básicos como diversos suplementos (Forgotten Realms, Mystara, Undermountain….) em um curtíssimo espaço de tempo. O mercado não absorveu como a editora esperava, o que provocou a interrupção da publicação do sistema.
Anos depois a TSR (que a essa altura já era propriedade da Wizards of the Coast) publicou a lendária 3ª Edição do sistema, utilizando uma licença aberta que revolucionou o mercado. Essa edição foi trazida ao Brasil pela DEVIR, que na época também deu um excelente suporte, traduzindo os livros básicos e diversos suplementos (entre eles o popularíssimo Forgotten Realms e o não menos clássico Ravenloft).
O tempo passou e a Wizards of the Coast resolveu “modernizar” o sistema, lançando a 4ª Edição daquele que é o RPG mais popular de todos os tempos. Ocorre que essa versão não fez lá muito sucesso, pois deixou para trás muito daquilo que é considerado a essência de Dungeons & Dragons, tornando-se muito parecida com um jogo de estratégia de tabuleiro. Essa edição também foi lançada no Brasil pela DEVIR, mas perdeu o suporte rapidamente.
A 5ª Edição
Em janeiro de 2012 a WotC anunciou que lançaria mais uma edição do clássico RPG, resgatando as características originais, mas modernizando ainda mais o sistema. Após alguns anos de desenvolvimento e um longo período de playtests a versão final foi lançada em Agosto de 2014, mas devido a uma série de fatores que não cabem aqui não havia planos de licenciamento para outros idiomas (incluindo o português).
E é aí que começa a história.
No último dia 21 de março uma notícia pegou a comunidade RPGística brasileira de surpresa: o anúncio de uma tradução oficial de D&D 5e, publicado pela Fire on Board
O que de início foi recebido com imensa empolgação rapidamente ganhou contornos de uma trama complicada.
Logo após o anúncio, Antonio Pop (um dos sócios da Red Box Editora) publicou na seu perfil do facebook:
Basicamente o post conta que havia sido formada uma sociedade (no modelo de joint venture) entre a Fire on Board, a Red Box e uma terceira empresa (a MeepleBR), com seus primeiros contornos ainda no fim de 2015, com o objetivo de realizar a tradução de D&D 5e para PT-BR. Após mais de um ano de negociações da joint venture com a WotC, e com toda a tradução do material finalizada para “ganhar tempo”, a Fire on Board informou as parceiras que estava pulando fora do barco. Qual não foi a surpresa das parceiras quando no dia posterior ao abandono, a GF9 (Gale Force Nine – empresa sediada no estado da Virgínia e detentora dos direitos de tradução do D&D para várias línguas) anuncia a parceria com a FoB para produção do material na língua de Camões…
Inicialmente a RedBox, conforme o próprio post linkado acima, optou por “não atrapalhar a publicação do D&D 5e no Brasil”, mas após uma massiva manifestação da comunidade anunciou, em conjunto com a MeepleBR, que tomará as medidas judiciais cabíveis.
Manifestação oficial da RedBox:
http://redboxeditora.com.br/caso-dndgatebr-carta-aberta-ao-mercado/
Manifestação Oficial da MeepleBR:
Manifestação Oficial da Fire on Board:
Outros artigos relacionados
Nemenomicon (blog do Neme, um dos sócios da RedBox):
Sobre o D&D 5a edição no Brasil
Artigo do Jovem Nerd News – provavelmente o relato mais completo sobre o ocorrido:
O conturbado lançamento de Dungeons & Dragons no Brasil
A repercussão das notícias foi tão grande que ganhou destaque até mesmo no portal UOL Jogos:
Novo “Dungeons & Dragons” chega ao Brasil envolvido em disputa judicial
Em uma época de tantos escândalos em nosso país, a equipe do UniversoRPG, torce para que a solução venha da forma mais justa e rápida possível, e que o material seja sim publicado aqui em Terra Brasilis. D&D é uma marca emblemática, e sua presença no mercado nacional não é apenas um sinal de força, mas um incentivo a muitos jogadores apaixonados pelo hobby.
Henrik “Ghost” Chaves
Henrik “Ghost” Chaves é fã de D&D (mas acha que a edição 3.5 foi a melhor de todas) e de tudo relacionado aos Mitos de Cthulhu. Música (rock), literatura (fantástica), cinema (pipoca) e boardgames (modernos) estão entre seus outros hobbies.