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Os jogos eletrônicos baseados em D&D

Conhecendo Baldur's Gate e outros jogos eletrônicos que usam a mecânica de regras de D&D.


Por: Zamboman | 24/03/2020

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Mestre RPG

Se você não estava vivendo isolado em uma caverna nas últimas semanas, deve ter visto o magnífico trailer do novo Baldur’s Gate 3, mas se não viu, pode ver agora:

Jogos eletrônicos baseados em D&D ou em cenários do D&D são mais comuns do que você imagina. Se tinha ouvido falar apenas de Baldur’s Gate e suas continuações, saiba que existiram jogos muito mais antigos. Para se ter ideia, o primeiro jogo eletrônico sobre D&D foi criado em 1975 e apenas como referência, o D&D foi lançado em 1974!!!

O jogo em questão se chamava apenas dnd e foi escrito na linguagem de programação TUTOR para o sistema PLATO (Programmed Logic for Automatic Teaching Operations) por Gary Whisenhunt e Ray Wood da Southern Illinois University. O jogo continuou recebendo melhorias até 1985.

Depois disso a lista de jogos só aumentou. Atualmente existem mais 50 jogos publicados com o tema D&D ou que usam as mecânicas de regras do sistema. Seria praticamente impossível falar de todos eles com o máximo de detalhe que merecem, mas alguns deles se tornaram verdadeiros clássicos e são jogados por milhares de pessoas ao redor do mundo até hoje.

Dungeons & Dragons Chronicles of Mystara

Chronicles of Mystara compreende 2 jogos: Tower of Doom e Shadow of Mystara. O primeiro foi lançado em 1994 originalmente na versão arcade (para fliperama) e se chamava apenas Dungeons & Dragons: Tower of Doom. Trata-se de beat ‘em up de rolagem lateral (ou side-scrolling). Outros jogos como o clássico Final Fight e Streets of Rage se enquadram nessa categoria.

Capa do Tower of Doom

Tower of Doom, um clássico entre clássicos. | Fonte: Pinterest.

Em Tower of Doom, você pode escolher entre 4 personagens jogáveis: Crassus, o guerreiro; Greldon, o clérigo; Lucia, a elfa e Dimsdale, o anão. Sim, temos 2 classes e 2 “raças” como opções de jogo. Isso vem diretamente da primeira versão do D&D, muito diferente das tradicionais raças e classes que conhecemos hoje.

O game tem um roteiro simples até, mas muito clássico. O início é um verdadeiro “início de campanha”.

A República de Darokin tem sido assolada por uma série de ataques. Em sua maioria, tribos de humanóides, como kobolds e gnolls, vem causando sérios problemas aos comerciantes locais.

Corwin Linton, um rico e influente comerciante da cidade de Athenos, começou a investigar mais de perto os ataques, tentando identificar o verdadeiro motivo deles. Em paralelo, enquanto aviso de contratação de aventureiros tem se espalhado por todos os lados da república, um grupo de aventureiros viaja por uma das estradas de Darokin. Porém, logo a viagem é interrompida ao ouvirem um pedido de ajuda vindo logo adiante.

Durante todo o jogo você encontra criaturas e monstros clássicos, todos presentes no Livro dos Monstros de D&D. De goblins e trolls a ogros e manticoras, passando até mesmo por dragões.

Chronicles of Mystara

Gastei algumas fichas tentando zerar esse game. | Fonte: Playstation.com

O segundo jogo da série veio 2 anos depois. Em Shadow of Mystara, nossos heróis continuam a sua jornada na República de Darokin. Desta vez enfrentando os planos da maligna feiticeira Synn, que mais tarde se revela como um Dragão Vermelho com centenas de anos.

Nesta segunda versão tivemos algumas mudanças na mecânica de jogo, além da adição de novos personagens. Um usuário de magia chamado Syous e uma ladra de nome Moriah.

Em 1999 a Capcom juntou os dois jogos na versão que ficou conhecida como Chronicles of Mystara, assim como lançou o game para outras plataformas. E saiba que você ainda pode jogar esse clássico? Ele está disponível na Steam e também para XBOX 360 e PS3/PS4.

Planescape: Torment

Talvez o jogo que mais desejei jogar na época do seu lançamento (1999). A capa com a enigmática cara azul do protagonista me deixava muito intrigado. Infelizmente, nunca consegui jogar o game.

Planescape: Torment se passa no universo Planescape, que é uma expansão das ideias apresentadas no famoso Manual dos Planos, ainda na versão do Advanced Dungeons & Dragons.

Capa do Planescape: Torment

Nameless One e seus dreadlocks com muito estilo. | Fonte: Mobygames

No game você controla Nameless One, também conhecido como Aquele que não tem nome. Você é um ser imortal, mas que por algum motivo ficou sem suas memórias e resolve partir em busca de respostas. Você começa sua jornada em Sigil, a majestosa (e quase infinita) cidade dos portais que fica no centro do todo o multiverso.

O foco principal desse jogo é o roleplay e não o combate, como a maioria dos games da época. O beat ‘em up e side-scrolling deram lugar ao point and click, presente em muitos jogos por aí, ou seja, muito antes do League of Legends, DOTA ou qualquer outro MMO.

Porém, o jogo não fez tanto sucesso no seu tempo, talvez pela jogabilidade ou por ser um jogo com público de nicho. Mesmo assim, o game acabou ganhando o status de “jogo cult“. Então, se você tiver a oportunidade, jogue e entre para essa seleta lista de jogadores. Ele também está disponível na Steam.

Icewind Dale

Outro jogo que arrebatou uma legião fãs foi Icewind Dale, que se passa em Forgotten Realms (ou Os Reinos Esquecidos como ficou conhecido aqui no Brasil). Para quem não sabe, Icewind Dale é uma região do continente de Faerûn em Forgotten Realms.

Icewind Dale

O jogo irmão de Baldur’s Gate. | Fonte: Steam.

O plot do jogo aqui também é a tradicional reunião na taverna, onde os aventureiros são contratados para se juntar a uma expedição até a cidade de Kuldahar, depois que estranhos eventos ocorreram na região.

Aqui temos algo bem parecido com o nosso RPG tradicional, começando pelo fato de que você não monta um personagem apenas, mas sim um grupo de até 6. Outro ponto é que para cada personagem criado, o jogador precisa selecionar classe, raça e alinhamento, além de distribuir os pontos de atributos correspondentes.

As classes foram agrupadas em 4 grandes grupos, apesar disso não fazer muito sentido para quem já joga RPG, mas vale lembrar que o jogo é aberto para todos os públicos. Por isso nós temos Warrior (guerreiro, paladino e ranger), Wizard (mago e feiticeiro), Priest (druida, clérigo e monge), e Rogue (bardo e ladrão). Discordo um pouco com a colocação do Bardo junto ao Ladrão, mas entendo o propósito da desenvolvedora em facilitar a compreensão dos jogadores não familiarizados com jogos de RPG.

Importante salientar também que os alinhamentos influenciam algumas coisas importantes no jogo, como acesso a determinados equipamento ou no resultado da interação com alguns NPCs.

Lançado em 2000, Icewind Dale ainda recebeu 2 expansões, Heart of Winter e Trials of the Luremaster. E assim como Planescape: Torment, uma Enhanced Edition está disponível na Steam.

A série Baldur’s Gate

Talvez de longe a série de jogos mais famosa que leva o D&D no nome. O jogo foi desenvolvido pela BioWare e distribuído pela Interplay Entertainment em 1998 e em 2012 foi lançada uma Enhanced Edition para as plataformas Windows, Mac, Android e iPad.

Baldur's Gate 1 e 2

Esses jogos marcaram gerações. | Fonte: Pinterest

Muito do que você encontra em Icewind Dale veio daqui. Você possui alinhamentos (9 ao todo) que delimitam suas escolhas em raça, classes, armas e armaduras, além dos tradicionais pontos de atributos. O jogo também recompensa o jogador dependendo das suas escolhas durante o curso do jogo. As regras vieram diretamente da 2ª edição do AD&D, com algumas modificações para que funcionasse melhor no PC.

Ele não chega ser um verdadeiro jogo sandbox no estilo GTA, mas você pode explorar o mapa e interagir com outros NPCs durante suas missões.

O plot principal do jogo envolve o seu personagem, um antigo Deus e revelações dignas de um plot twist de filmes de Hollywood.

Se você ainda não jogou a série Baldur’s Gate e pretende fazer isso algum dia, pule essa parte. Senão, leia por conta e risco, ok?

[Início do Spoiler]

Você é nada mais nada menos do que filho do Deus do assassinato, Bhaal. Você foi criado como filho adotivo de Gorion, que acaba morrendo na primeira parte do game. Assim, cabe a você descobrir mais sobre o seu verdadeiro passado. O jogo começa com você investigando algumas mortes e desaparecimentos na região das minas de Nashkel. Com o desenrolar das coisas, você descobre que alguém (ou alguma coisa) está “envenenando” o ferro das minas, para que esse se destrua em pouco tempo.

A história vai se desenrolando, e a certa altura você descobre que tudo não passa de um plano do seu irmão, Sarevok para se tornar o novo Deus do Assassinato.

[Fim do Spoiler]

Como de praxe, o jogo recebeu uma continuação, além de 2 novas expansões. Baldur’s Gate 2: Shadows of Amn é uma continuação meio que direta da primeira história, no que diz respeito ao personagem principal. Já as expansões Tales of the Sword Coast e Throne of Bhaal adicionam mais missões e itens a sua jornada.

Dark Alliance

Baldur’s Gate também deu as caras nos consoles. Lançado em 2001, Baldur’s Gate: Dark Alliance segue a linha dos games conhecida como hack and slash, o famoso matar-pilhar-destruir que tantos jogadores de RPG gostam, além da tradicional visão isométrica ou como eu costumo chamar, a “visão de cima“.

A primeira versão do game apareceu no saudoso Playstation 2 e depois foi portado para outras plataformas (Xbox, GameCube, Game Boy Advance) chegando até mesmo a ganhar um prêmio, o Academy of Interactive Arts & Sciences.

Dark Alliance para PS2

Saudades do meu PS2. | Fonte: Reprodução.

No início do game o jogador pode escolher entre 3 combinações de raça e classe. Kromlech, um anão guerreiro; Vahn, um humano arqueiro e finalmente Adrianna, uma elfa feiticeira. É possível também uma certa customização, distribuindo pontos do personagem em determinados atributos e características.

Cada personagem possui estilos de luta próprios, o que acaba afetando também sua estratégia de combate no game. O jogo também possui um modo cooperativo, mas que não distribui os pontos de experiência nem o ouro coletado de forma igual. A cada inimigo morto, o jogador que matou fica com 60% da experiência e o outro com os 40% restantes. Da mesma forma, quando um coleta o ouro ou tesouros, fica com 100%, deixando o outro jogador sem nada. Dependendo com quem e como você joga, com o passar das fases, você vai ter personagens levemente desequilibrados.

Com 4 níveis de dificuldade, ao concluir o game no modo Extreme, o mesmo assume a forma de um New Game Plus que ao ser concluído, libera ninguém menos do que Drizzt Do’Urden, o lendário elfo negro de Forgotten Realms.

O jogo possui uma storyline bem longa e detalhada, mas o jogo segue de forma quase linear, sem muitos desdobramentos possíveis. Começando com os personagens sendo resgatados e introduzidos ao mundo de Baldur’s Gate para depois acabarem com um plano maligno maior que estava em andamento.

Em 2004 chegava Baldur’s Gate: Dark Alliance II, uma continuação direta do primeiro game, porém com novos protagonistas e uma nova ameaça. As mecânicas de jogo continuaram praticamente as mesmas, com uma diferença aqui e outra ali.

Vale ressaltar que em ambos os jogos, o sistema de regras usado como base já era a 3ª edição do D&D.

E o Neverwinter Nights?

A série Neverwinter Nights é outra da linhagem D&D que possuiu uma enorme legião de fãs. Porém essa história vai ficar para um próximo post.

Marcelo JK “Zamboman”

Jogador e Mestre de RPG desde a época em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Fã de ficção científica, mestre de Star Wars Saga e mestre em tirar aventuras improvisadas da cartola.