O Alquimista da Rua 9
Descubra a enigmática loja na Rua 9, onde pactos ocultos e artefatos mudam destino de seus clientes.
Por: Zamboman | 04/11/2024
Às vezes, uma imagem fala mais do que mil palavras. Foi exatamente o que aconteceu quando me deparei com uma cena enigmática em uma esquina perdida da internet. Uma loja misteriosa, com uma fachada antiga, quase esquecida pelo tempo, situada em uma rua que parecia esconder segredos profundos. Aquela imagem não saiu da minha mente, e foi assim que nasceu O Alquimista da Rua 9.
Este conto é uma jornada por uma rua onde a realidade se distorce e o tempo se torna maleável nas mãos de um misterioso alquimista. Na loja, cada artefato carrega um poder indescritível, e todo visitante que entra jamais sai da mesma forma. Se você estiver pronto para enfrentar os mistérios do desconhecido e as verdades que o Espelho da Verdade Oculta pode revelar, convido você a mergulhar nessa história.
Parte 1: A loja misteriosa
A cidade nunca dormia. Seus mercados fervilhavam de vida, com o som de vozes, o martelar de ferreiros, e o tilintar de moedas ecoando pelas vielas estreitas. As luzes de lampiões a óleo piscavam à medida que a noite se aproximava, lançando sombras estranhas que dançavam nas paredes de pedra antigas. O cheiro de especiarias exóticas e comida assada misturava-se no ar, enquanto mercadores gritavam suas últimas ofertas do dia.
Mas em meio ao caos e à agitação da cidade, havia um lugar onde o tempo parecia suspenso — a Rua 9. Era uma rua peculiar, estreita e sinuosa, cujas pedras gastas pareciam pertencer a uma era muito anterior à própria cidade. Raramente era mencionada, a não ser por aqueles que tinham razões específicas para se aventurar por ali. Os rumores diziam que, embora fosse uma rua pequena e esquecida, algo de extraordinário estava escondido lá.
No final da Rua 9, uma pequena loja se erguia, discreta e desgastada pelo tempo. A placa de madeira acima da porta, quase invisível, dizia simplesmente: “O Alquimista“. Muitos passavam por ali sem jamais perceber, pois a fachada antiga parecia se camuflar nas sombras da cidade. Aqueles que a notavam, porém, sentiam um arrepio correr pela espinha, como se a loja os observasse de volta.
Poucos ousavam entrar, e aqueles que o faziam raramente falavam sobre a experiência. Os poucos relatos que circulavam em tavernas e becos descreviam a loja como um labirinto de prateleiras repletas de frascos, vidros e artefatos antigos, cada um mais estranho que o outro. Os clientes falavam de frascos cujos líquidos mudavam de cor com o toque da luz, livros cujas páginas pareciam se virar sozinhas, e objetos que emitiam um leve zumbido, como se estivessem vivos.
O Alquimista, dono do estabelecimento, era um homem de poucas palavras e expressão indecifrável. Sempre trajado com um longo manto escuro, ele se movia pela loja com uma calma desconcertante. Seu rosto, marcado pelo tempo, tinha uma aparência pálida, quase translúcida, e seus olhos, de um verde profundo, pareciam conter segredos inomináveis. Diziam que ele nunca envelhecia, e que sua presença na cidade era tão antiga quanto a própria Rua 9.
Os rumores sobre o Alquimista eram muitos e variados. Alguns diziam que ele tinha o poder de transformar o impossível em realidade; que ele poderia curar doenças incuráveis, desfazer erros do passado, ou até mesmo alterar o curso do destino. Outros, porém, afirmavam que ele fazia pactos com forças além deste mundo, entidades que residiam em dimensões esquecidas pelo tempo. De uma forma ou de outra, todos concordavam em uma coisa: cada serviço, cada item que ele oferecia, vinha com um preço, e esse preço raramente era o que os clientes esperavam.
Certa noite, quando as ruas da cidade estavam envoltas em neblina, um visitante solitário caminhava em direção à Rua 9. Suas roupas estavam sujas pela longa jornada, e o olhar fixo nos degraus de pedra da rua indicava que ele sabia exatamente onde estava indo. Seus passos ecoavam fracamente nas pedras molhadas, e ao se aproximar da loja do Alquimista, parou diante da porta de madeira envelhecida. Por um momento, hesitou. Sabia o que estava procurando, mas também conhecia os riscos.
Com uma respiração profunda, ele abriu a porta.
O interior da loja era abafado, iluminado apenas por algumas velas tremeluzentes dispostas em suportes de ferro que pendiam das paredes. O cheiro do lugar era difícil de descrever, uma mistura de ervas secas, poeira antiga e algo metálico, quase como ozônio após uma tempestade. As prateleiras, como o cliente havia ouvido falar, estavam abarrotadas de objetos curiosos. Frascos de líquidos brilhantes, crânios de criaturas que não pertenciam a este mundo, relógios cujos ponteiros corriam ao contrário.
O visitante passou os olhos pelo ambiente, tentando controlar o desconforto crescente que tomava conta de seu peito. Nada parecia estar no lugar, e ao mesmo tempo, tudo parecia exatamente onde deveria estar. Era uma sensação que ele não conseguia explicar, como se o espaço ao redor estivesse ligeiramente… errado.
“Posso ajudá-lo?” A voz soou suave, mas carregada com uma autoridade sutil. O Alquimista surgiu da penumbra, movendo-se silenciosamente entre as prateleiras como uma sombra. Ele se aproximou, seu manto escuro arrastando-se pelo chão. “Está buscando algo específico?”
O visitante levantou os olhos, e pela primeira vez encarou o homem de quem tanto ouvira falar. Havia uma presença inquietante no Alquimista, algo além de sua aparência tranquila. Era como se sua própria existência desafiasse as leis do tempo.
“Sim”, respondeu o cliente, com a voz falhando levemente. “Estou atrás de algo… que ninguém mais pode fornecer.”
O Alquimista manteve-se em silêncio por um longo momento, seus olhos penetrantes estudando o homem à sua frente. Quando finalmente falou, suas palavras foram medidas, quase como um aviso.
“Tudo nesta loja tem um preço”, disse ele, com um leve sorriso enigmático. “Você está preparado para pagar?”
Parte 2: Pactos e poderes ocultos
O silêncio que se seguiu à pergunta do Alquimista pareceu se alongar, preenchendo a loja com uma tensão quase palpável. O visitante, ainda parado próximo à entrada, sentiu o peso das palavras ressoando em sua mente. Ele sabia que, ao cruzar o limiar daquela loja, havia se comprometido a algo muito além do simples comércio de mercadorias. O que procurava não podia ser comprado com moedas de ouro, nem mesmo com promessas de favores futuros. E, pela expressão do Alquimista, ficava claro que este sabia exatamente o que estava em jogo.
“Estou preparado”, respondeu o cliente, a voz firme, embora uma leve hesitação ainda pairasse em seu olhar.
O Alquimista esboçou um leve sorriso, quase imperceptível, e virou-se, caminhando lentamente até uma prateleira alta no fundo da loja. Suas mãos se moviam com precisão enquanto deslizavam por frascos e livros antigos, até finalmente pararem diante de um objeto oculto pela sombra. Ele o retirou com cuidado, como se fosse algo que demandasse extremo respeito, e o trouxe à luz.
Sobre o balcão de madeira envelhecido, o Alquimista depositou um pequeno frasco de vidro, preenchido por um líquido escuro que parecia absorver a luz ao seu redor. O líquido movia-se lentamente, quase como se estivesse vivo, pulsando em um ritmo que parecia sincronizado com o próprio ar da loja.
“O que você procura”, começou o Alquimista, sua voz baixa e cadenciada, “não é algo que qualquer um esteja disposto a vender. Este frasco contém mais do que aparenta. O que reside aqui dentro tem o poder de alterar o curso da sua vida — e do destino em si.”
O visitante se inclinou para frente, seus olhos fixos no frasco. Havia algo perturbador naquela substância, algo que ele não conseguia definir. Ela não emitia luz, mas ao mesmo tempo, parecia brilhar em sua mente, como uma presença que sussurrava de uma forma que não poderia ser ouvida.
“O que é isso?” Ele perguntou, a voz mais baixa do que pretendia.
“Um fragmento do tempo” disse o Alquimista, seus olhos agora fixos no cliente. “Uma gota de uma fonte que não pertence a este mundo. Aqueles que sabem usá-lo podem fazer o tempo dobrar-se à sua vontade. Um segundo pode se tornar uma eternidade… ou um ano pode desaparecer em um piscar de olhos.”
O cliente permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo o que acabara de ouvir. Ele havia escutado rumores de que o Alquimista era capaz de manipular o tempo, de fazer pactos com forças que transcendiam a compreensão humana. Mas nunca imaginou que estaria diante de tal poder.
“E qual é o preço por algo assim?” Ele perguntou, agora consciente de que nada nesta loja era oferecido sem um custo elevado.
O Alquimista ergueu uma sobrancelha, seu sorriso enigmático retornando. “O tempo é uma moeda que todos temos em abundância… até que nos falte. O preço é simples: uma parte de sua própria essência. Um fragmento de sua vida, em troca do controle sobre o destino.”
O visitante sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele sabia que o Alquimista estava falando sério, que esse “preço” não era uma simples metáfora. Mas ele também sabia que não havia volta. O que ele buscava — o poder de mudar seu destino — estava ao alcance de suas mãos. Era tudo ou nada.
“E se eu recusar?” Ele perguntou, tentando entender todas as suas opções.
O Alquimista sorriu mais uma vez, seus olhos brilhando como esmeraldas sob a luz trêmula das velas. “Se recusar, sairá daqui da mesma forma que entrou. Sem respostas, sem mudanças. O tempo continuará seu curso implacável, e você permanecerá à mercê dele. Mas se aceitar… bem, o tempo pode se tornar seu aliado, ou seu maior inimigo. A escolha é sua.”
O cliente olhou para o frasco, seus pensamentos girando em torno das possibilidades. Sua vida até aquele ponto havia sido marcada por fracassos, por caminhos que pareciam se fechar diante de si a cada tentativa de mudança. Ele estava cansado de ser um joguete do destino. Agora, tinha a oportunidade de tomar as rédeas de sua própria história.
Mas o preço…
“E quanto aos boatos?”, perguntou o visitante, mudando de assunto repentinamente. “Dizem que você não envelhece. Que fez pactos com forças de outros planos. Esses rumores… são verdade?”
O Alquimista ficou em silêncio por um instante, como se considerasse cuidadosamente sua resposta. Ele se virou, voltando a caminhar entre as prateleiras, seus dedos deslizando por livros antigos e objetos cobertos de pó. Quando finalmente falou, sua voz era suave, mas carregava um peso de séculos.
“Rumores são uma forma de verdade disfarçada,” ele disse, sem olhar para o visitante. “Alguns dizem que manipulo o tempo, que fiz pactos com entidades além deste plano. Outros acreditam que sou apenas um homem comum, com um conhecimento antigo. A verdade está em algum lugar entre as lendas e os fatos.”
Ele se virou, agora de frente para o cliente, seu olhar penetrante. “Mas saiba disto: todo poder tem uma origem. E toda origem traz consigo um preço. Se você deseja poder sobre o tempo, deve entender que ele não pertence a você. Nem a mim. Ele é… emprestado. E o custo de utilizá-lo pode não ser sentido imediatamente, mas será cobrado — cedo ou tarde.”
O cliente sentiu o peso das palavras caírem sobre ele como uma marreta. Aquele homem, aquele Alquimista, não era apenas um comerciante de artefatos. Havia algo de muito mais profundo e perigoso escondido por trás de seu semblante tranquilo. E ele sabia que, ao aceitar a oferta, estaria entrando em um pacto do qual talvez jamais conseguisse escapar.
Ele olhou para o frasco mais uma vez, o líquido escuro ainda pulsando como uma pequena criatura viva. Seu desejo de mudar seu destino lutava contra o medo crescente que se acumulava dentro dele.
“Eu aceito,” disse ele, por fim, a voz rouca e decidida.
O Alquimista assentiu, como se já soubesse que essa seria a resposta. Sem mais uma palavra, ele entregou o frasco ao visitante, seus olhos brilhando com uma luz que parecia quase sobrenatural. “Lembre-se: o tempo está agora nas suas mãos. Use-o com sabedoria… ou sofra as consequências.”
Parte 3: O elixir e o espelho
Com o frasco em suas mãos, o visitante sentiu uma leve vibração, como se o tempo dentro do vidro estivesse pulsando, vivo. Era uma sensação que lhe causava tanto fascínio quanto desconforto. Mas, antes que pudesse pensar em partir, seus olhos foram atraídos por algo mais nas prateleiras. A loja parecia estar mudando, ou talvez fosse apenas a percepção dele que estivesse se alterando, mas agora ele conseguia ver mais profundamente no labirinto de itens esotéricos.
“O que é aquilo?” ele perguntou, apontando para um frasco ligeiramente maior que o que segurava. O líquido dentro parecia um redemoinho de luzes cintilantes, tão belo quanto perturbador. Ele não sabia explicar por que, mas sentiu que aquele item era diferente de tudo que já tinha visto.
O Alquimista, ao perceber seu interesse, seguiu seu olhar e parou diante do objeto. Com um gesto lento e cuidadoso, ele o retirou da prateleira e o colocou sobre o balcão ao lado do frasco que o visitante já havia escolhido.
“Este é o Elixir do Destino”, disse o Alquimista em tom reverente, como se a mera menção ao objeto exigisse cuidado. “Uma substância que carrega o poder de alterar o fio do tempo, de dar a quem o beber uma chance única de moldar o próprio futuro.”
Os olhos do visitante brilharam com uma mistura de ganância e temor. O conceito de mudar o destino era algo tentador, quase irresistível. Mas a maneira como o Alquimista falava do elixir o fazia hesitar. Havia algo mais por trás daquele frasco cintilante.
“Alterar o destino? Como isso funciona?” perguntou, cauteloso.
O Alquimista observou o frasco por um momento antes de responder, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. “O Elixir oferece uma oportunidade rara. Ao bebê-lo, você terá a chance de mudar um único evento em sua vida. Uma decisão, um erro, um momento — seja qual for, pode ser revertido, como se nunca tivesse acontecido.”
O visitante quase pôde sentir o peso de suas próprias memórias, de decisões que o atormentavam, apertando seu peito. A ideia de reescrever uma parte do passado, de corrigir um erro que o havia assombrado, era tentadora além do que ele poderia admitir.
“E o preço?”, ele perguntou, já sabendo que haveria um.
“Ah”, disse o Alquimista com um sorriso sutil, “o preço do Elixir do Destino é simples, mas definitivo. Ao alterar o curso de um único evento, você jamais saberá quais seriam as outras consequências. O destino é uma rede de fios entrelaçados, e ao puxar um, você pode desfiar muitos outros. O que parece um pequeno ajuste pode mudar toda a tapeçaria de sua vida. O preço não é algo que posso definir, pois ele só será revelado a você com o tempo.”
A advertência pairou no ar como uma névoa espessa, mas o visitante não conseguia afastar a atração que sentia pelo poder contido naquele frasco. Antes que pudesse decidir, seus olhos foram atraídos para outro objeto, ainda mais enigmático.
No fundo de uma prateleira empoeirada, havia um espelho, pequeno e antigo, com uma moldura ornamentada de prata que parecia brilhar com uma luz própria. O vidro, no entanto, não era transparente. Em vez disso, uma neblina opaca cobria a superfície, como se guardasse algo oculto por trás de sua aparência simples.
“E aquilo?” perguntou o visitante, apontando para o espelho.
O Alquimista se aproximou, pegando o espelho nas mãos com uma reverência ainda maior do que a que demonstrara com o elixir. Ele segurou o objeto por um momento, deixando o visitante observar sua superfície turva.
“Este é o Espelho da Verdade Oculta,” disse o Alquimista, sua voz carregada com uma gravidade que o visitante não havia ouvido antes. “Um artefato que revela a verdadeira natureza de quem o olha. O espelho não mostra o reflexo que você espera ver, mas sim o que está dentro de você… O que você tenta esconder, até de si mesmo.”
O visitante deu um passo para trás, como se fosse atingido pela magnitude do que ouvira. A ideia de encarar sua própria essência, sem as camadas de autoengano ou as mentiras que contava a si mesmo, o aterrorizava de uma forma que ele não esperava.
“E… o que acontece com quem olha para ele?” Ele perguntou, tentando manter a voz firme.
O Alquimista colocou o espelho de volta na prateleira, como se o peso do objeto fosse demais para ser segurado por muito tempo. “O espelho não mente. Aqueles que o encaram devem estar preparados para enfrentar o que veem. Para alguns, a revelação é uma libertação. Para outros… é uma maldição. Tudo depende de quão preparado você está para conhecer a verdade.”
A tensão no ar crescia com cada palavra do Alquimista. O visitante, agora diante de três escolhas tentadoras — o frasco de tempo, o Elixir do Destino e o Espelho da Verdade Oculta —, sentia-se sufocado pela imensidão das decisões que precisaria tomar. Cada objeto oferecia um poder que ele mal conseguia conceber, mas também prometia consequências além de sua compreensão.
“E se eu quisesse… tudo?” ele perguntou, sua voz quase um sussurro.
O Alquimista sorriu, mas dessa vez, o sorriso parecia frio e distante. “O poder absoluto é uma ilusão. O tempo, o destino e a verdade não são peças de um quebra-cabeça que você pode manipular como desejar. Cada escolha que fizer o colocará em um caminho. Você pode pegar um frasco, mas não os dois. Pode olhar no espelho ou ignorá-lo. Mas esteja ciente de que qualquer escolha que fizer terá suas próprias ramificações.”
O visitante olhou para os itens diante de si, sentindo o peso de sua decisão. Ele estava em busca de algo grande, algo que pudesse mudar sua vida para sempre. Mas agora, à medida que o poder lhe era oferecido, ele começava a questionar se estava pronto para lidar com as consequências.
Com a mente girando em torno de suas opções, ele se perguntou: o que ele realmente queria? Mudar o destino? Controlar o tempo? Ou descobrir a verdade oculta dentro de si?
Parte 4: A convergência da Rua 9
O visitante estava à beira de uma escolha. As opções oferecidas pelo Alquimista se acumulavam em sua mente como ecos distorcidos, cada uma com suas próprias promessas e perigos. O frasco de tempo, o Elixir do Destino, e o Espelho da Verdade Oculta estavam ao seu alcance, mas o preço de cada um era incalculável. E embora suas mãos estivessem estendidas para fazer a escolha, algo interrompeu sua decisão.
Uma leve vibração percorreu o chão sob seus pés, como o murmúrio distante de um trovão. Ele parou, franzindo a testa, e olhou ao redor da loja. O Alquimista permaneceu impassível, mas o ar ao redor parecia ter mudado — estava mais pesado, como se carregasse uma energia desconhecida.
“Algo está errado,” murmurou o visitante, a inquietação crescendo dentro de si. O sentimento de que algo grandioso e terrível estava prestes a acontecer tornava-se mais forte a cada segundo.
O Alquimista permaneceu em silêncio, seus olhos cintilando com uma percepção oculta. “Há forças em movimento que estão além da sua compreensão”, disse ele, sua voz quase um sussurro. “A Rua 9 sempre foi um ponto de convergência, um local onde os limites entre as realidades são mais tênues. E agora… esses limites estão se rompendo.”
O visitante recuou um passo, seu coração disparado. A loja, que antes parecia um santuário de mistérios controlados, agora parecia prestes a desmoronar. As prateleiras vibravam levemente, os frascos tilintando entre si, e o leve zumbido que ele ouvira antes agora se tornava um rugido baixo e ameaçador.
“O que está acontecendo?” Ele exigiu, sua voz tremendo.
O Alquimista finalmente se virou completamente para ele, o semblante sério e calmo, mas seus olhos revelavam uma verdade incômoda. “Algo antigo está tentando romper a barreira entre os mundos. Uma entidade que foi selada há muito tempo. Ela deseja liberdade, e a Rua 9 é o caminho pelo qual ela tentará se libertar.”
O visitante sentiu o ar faltar em seus pulmões. Ele havia ouvido rumores sobre pactos do Alquimista com forças interdimensionais, sobre entidades que habitavam além da compreensão humana, mas nunca imaginara que estivesse tão perto de uma delas. A loja começou a balançar levemente, como se estivesse sendo puxada por forças invisíveis.
“A entidade foi contida aqui, na loja,” continuou o Alquimista, sua voz baixa e controlada. “Durante séculos, ela tentou escapar, mas fui capaz de mantê-la sob controle. No entanto, algo está diferente. O equilíbrio que sustentei está se rompendo, e se ela conseguir romper as barreiras da loja, todo o tecido da realidade ao redor será distorcido.”
O visitante olhou para o espelho, o frasco de tempo, e o Elixir do Destino. Ele se sentia como uma peça insignificante em um jogo muito maior. O poder que ele tanto ansiava estava à sua frente, mas agora parecia uma armadilha. O que ele havia feito para desencadear esse caos? Ou seria apenas uma coincidência cruel?
Uma nova onda de vibração percorreu a loja, dessa vez mais forte, quase derrubando as prateleiras. Os frascos caíram, alguns estourando no chão, e um estranho cheiro de ozônio encheu o ar. O som que o visitante ouvira antes agora se tornava mais claro — não era um simples zumbido, mas sussurros. Vozes indistintas, como um coro de seres além do tempo, ecoando pelas paredes da loja e invadindo sua mente.
“Não há muito tempo,” disse o Alquimista, agora se movendo com urgência. “Você me ajudará a selá-la, ou será engolido pelo caos que ela trará.”
O visitante piscou, confuso. “Ajudar você? Eu… eu nem sei o que está acontecendo! Como posso ajudar?”
O Alquimista virou-se rapidamente, seus olhos ardendo com uma intensidade que o visitante não havia visto antes. “Você tem o frasco do tempo nas mãos. Com ele, podemos retardar o avanço da entidade, mas será uma medida temporária. Precisaremos usar outro artefato para selar completamente a brecha.”
O visitante olhou para o frasco em suas mãos, sentindo a pulsação dentro dele aumentar. O peso da situação caiu sobre ele com força total. Ele queria poder, mas não desse jeito. Agora, ele era apenas uma marionete em um jogo de forças cósmicas, lutando para sobreviver a algo que mal podia compreender.
“O Espelho,” disse o Alquimista, apontando para o artefato. “Ele revelará a verdadeira natureza da entidade. Somente quando conhecermos sua forma, seremos capazes de confiná-la novamente.”
O visitante hesitou. Olhar no espelho… encarar a verdade… não era apenas sobre ele. O espelho revelaria a verdadeira natureza da entidade, mas também a dele. E ele temia o que poderia ver.
“Rápido!” gritou o Alquimista, enquanto outra onda de distorção sacudia a loja. “Não temos escolha!”
Com as mãos tremendo, o visitante se aproximou do espelho. O ar ao seu redor parecia se dobrar e vibrar, como se a própria realidade estivesse se fragmentando. Ele olhou para o vidro opaco, hesitante, e então, com um movimento rápido, encarou seu próprio reflexo.
O que viu não era o rosto que ele esperava. Em vez disso, o vidro se abriu como uma janela para outra realidade — e lá estava a entidade. Uma criatura de formas incompreensíveis, com tentáculos de energia que se estendiam além do campo de visão, sua presença distorcia tudo ao seu redor. A criatura parecia feita de pura escuridão, uma ausência de tudo que ele conhecia como realidade.
Mas havia algo mais. Algo dentro de si mesmo. Seu reflexo, à medida que ele observava, começou a se distorcer também. As sombras dentro dele, os segredos que ele tentara enterrar, vieram à tona. Ele era parte do caos que se desenrolava ao redor. Suas próprias escolhas, seus desejos egoístas… eles haviam contribuído para o rompimento das barreiras.
Ele recuou, ofegante, sentindo uma onda de pânico invadir seu corpo. O Alquimista se aproximou rapidamente e colocou uma mão firme em seu ombro.
“Agora você entende”, disse o Alquimista. “Nós dois temos um papel a desempenhar, mas o tempo está se esgotando.”
Sem mais hesitação, o Alquimista pegou o espelho, segurando-o em direção à distorção que se formava no centro da loja. O visitante, ainda em choque, assistiu enquanto o espelho emitia um brilho intenso, concentrando-se na forma distorcida da entidade.
A loja inteira tremeu, e por um momento, o som dos sussurros tornou-se ensurdecedor. Mas então, como se a própria realidade tivesse respirado de alívio, o som cessou. A distorção começou a diminuir, lentamente, até que não restasse nada além do silêncio.
O visitante caiu de joelhos, exausto, sua mente ainda revirando os horrores que presenciara. O Alquimista se aproximou, seu rosto sério, mas calmo.
“A entidade foi contida, por enquanto,” disse ele. “Mas a convergência da Rua 9 não pode ser selada para sempre. Ela retornará. E quando isso acontecer, estarei aqui.”
O visitante olhou para o frasco em suas mãos, agora sem brilho, e sentiu que o tempo que havia desejado controlar escapava por entre seus dedos.
Epílogo: O testamento da Rua 9
O visitante saiu da loja, seus passos pesados ecoando nas pedras da Rua 9. O céu estava escuro, coberto por nuvens que pareciam absorver o brilho das estrelas, deixando a rua iluminada apenas pelos fracos lampiões que tremeluziram em intervalos irregulares. Havia uma estranha quietude no ar, como se a própria cidade estivesse segurando o fôlego, à espera de algo.
Ele se virou uma última vez para a fachada da loja, agora indistinguível entre as sombras da noite. A placa desgastada balançava suavemente ao vento, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Mas o visitante sabia que as aparências enganam. Lá dentro, algo havia mudado — tanto no mundo quanto dentro de si mesmo.
A loja do Alquimista continuava a guardar seus segredos, intocada pelo caos que quase a consumiu. O Alquimista, sempre imperturbável, agora permanecia dentro, como guardião de algo antigo, algo que ainda desejava escapar. Mas a convergência fora contida, por enquanto. A entidade retornaria, e quando isso acontecesse, outra vez o Alquimista estaria lá. Talvez o visitante também estivesse.
Ele sentiu o frasco do tempo em sua mão, agora vazio e frio. O poder que antes prometia tanto agora parecia distante, como um sonho que desvanecia à luz da manhã. Ele havia desejado controlar o tempo, mudar o destino, mas agora percebia que o tempo não pode ser controlado, apenas observado enquanto segue seu curso implacável.
O visitante respirou fundo, tentando acalmar a mente tumultuada pelas visões que o Espelho da Verdade Oculta lhe havia revelado. Aquela entidade… aquela força distorcida que quase se libertara… era parte de algo muito maior. Parte de algo que ele mal compreendia. Mas o que o assombrava não era apenas a entidade em si. Era o que ele vira sobre si mesmo. A verdade que o espelho mostrara.
Agora, enquanto caminhava de volta para a cidade, ele sabia que nunca seria o mesmo. Não podia mais confiar completamente na sua própria percepção do mundo, nem no controle que julgava ter sobre sua vida. Algo dentro dele havia mudado, assim como o que havia fora. Ele era agora um homem marcado, tanto pelas forças interdimensionais quanto pelas escolhas que fizera naquela noite.
Ao chegar ao final da Rua 9, ele parou e olhou para trás uma última vez. A rua estava completamente deserta, exceto pelo som distante do vento. Mas, no fundo de sua mente, ele sentia um leve zumbido, um sussurro que não conseguia silenciar completamente. A convergência continuaria a acontecer. A Rua 9 continuaria a ser o ponto de intersecção entre mundos. E a loja, com o Alquimista, permaneceria ali, à espera de outros que buscassem respostas, poder ou destino.
O visitante suspirou, suas mãos trêmulas finalmente relaxando. Ele sabia que jamais voltaria a entrar naquela loja. Havia algo nas sombras da Rua 9 que o aterrorizava profundamente, algo que ele nunca poderia descrever em palavras, mas que ficaria com ele para sempre.
E então, como se em resposta ao seu pensamento, a luz fraca dos lampiões piscou mais uma vez, e uma nova figura apareceu na entrada da Rua 9. Outro visitante, perdido ou curioso, com o olhar fixo na loja. O ciclo começava novamente.
Com um último olhar, o visitante se virou e desapareceu na noite, sabendo que, por mais que tentasse, jamais conseguiria escapar do que havia aprendido. O tempo e o destino seguiam seus próprios caminhos, indiferentes à vontade dos homens.
Mas a Rua 9… a Rua 9 continuava ali, guardando seus segredos.
No silêncio da loja, o Alquimista observava, seus olhos fixos no ponto onde o visitante havia desaparecido. Ele sabia que o ciclo continuaria, que outros viriam em busca de respostas e poder, mas poucos entenderiam o verdadeiro preço até que fosse tarde demais.
Ele fechou os olhos por um momento, sentindo a leve vibração no ar. A entidade estava contida, mas o tempo era um véu frágil. Um dia, tudo se desfaria novamente. Mas até lá, ele estaria pronto. Sempre à espera.
Item Mágico: O Espelho da Verdade Oculta
Item Mágico Muito Raro (requer sintonização)
Descrição
O Espelho da Verdade Oculta é um artefato criado por forças além da compreensão mortal. Aparentemente inofensivo, com uma moldura ornamentada de prata e uma superfície turva, o espelho possui o poder de revelar não apenas o que se vê à primeira vista, mas a verdadeira essência de quem se olha. Ele mostra as verdades mais profundas, muitas vezes ocultas até de quem as busca.
Propriedades
- Revelar a Verdade Oculta: Quando uma criatura se olha no espelho enquanto estiver sintonizada com ele, ela deve realizar um teste de Sabedoria (CD 17). Em caso de falha, a criatura enxerga a verdade que mais teme sobre si mesma ou sobre algo que tenta ocultar. Isso pode ser uma revelação devastadora, levando a um trauma psicológico. A criatura fica atordoada por 1d4 rodadas e ganha uma condição de medo em relação à verdade revelada, perdurando por 24 horas (a critério do mestre, dependendo da verdade revelada). Se a criatura passar no teste, ela pode escolher aceitar a revelação. Ela ganha a capacidade de usar Visão da Verdade uma vez por dia, que funciona como a magia ver o invisível por 1 hora.
- Visão da Verdade (Recarga 1d4 dias): O Espelho da Verdade Oculta pode ser usado para revelar segredos ocultos de outra criatura. O portador pode apontar o espelho para uma criatura que esteja a até 9 metros de distância e, com uma ação, exigir que ela realize um teste de Sabedoria (CD 17). Em caso de falha, a criatura não pode mentir e é forçada a revelar suas intenções ou um segredo que está tentando ocultar (simulando o efeito da magia Zona da Verdade). Este efeito dura 10 minutos.
- Condição Oculta: Toda vez que o portador usa o espelho para revelar uma verdade, há uma chance de 25% de que ele revele um aspecto profundo de sua própria psique, expondo segredos que ele mesmo desconhecia. Isso pode influenciar suas decisões e ações futuras, levando-o a questionar sua própria identidade.
Desvantagens
Usar o Espelho da Verdade Oculta repetidamente pode ser perigoso. Toda vez que o espelho é usado para revelar uma verdade sobre outra pessoa, o portador deve fazer um teste de Sabedoria (CD 15). Em caso de falha, ele é afetado pela condição assombrado por 24 horas, atormentado pela verdade revelada, e pode experimentar alucinações ligadas à verdade oculta.
Marcelo JK “Zamboman”
Jogador e Mestre de RPG desde a época em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Fã de ficção científica, mestre de Star Wars Saga e mestre em tirar aventuras improvisadas da cartola.