Argentea: A Terra Flutuante
Um pouco mais sobre o continente de Argentea e sua fascinante história.
Por: nestokun | 21/11/2018
“Pah’soka passou os olhos rapidamente pelo depósito de itens mágicos dos Exploradores, tentando se concentrar nos objetos à sua frente e não nos sons dos guardas fazendo sua ronda ali perto. Ele sabia que devia ter escondido melhor a corda de fuga, mas agora era tarde para isso. Uma antiga moeda, uma adaga enferrujada, um pergaminho caindo aos pedaços… nada ali se parecia com o artefato das ruínas de Shian-Lah, que sua mestra o incumbiu de roubar. ‘Bem que a senhora Tha’tah podia ter sido mais específica…’ pensou o trapaceiro. E então ele o viu: Um pente feito em pedra esverdeada no formato de vinhas de parreira, de uma intrincada delicadeza impossível sem a presença de magia. Trancado em um expositor, claro.
Ele rapidamente sacou suas ferramentas e lembrou das lições de trapaceiro, procurando armadilhas antes de abrir a caixa de vidro. Ele achou um minúsculo mecanismo que dispararia uma série de agulhas – provavelmente envenenadas – nas suas mãos se ele abrisse o trinco sem cuidado. ‘Boa tentativa, mas não foi desta vez.’ pensou satisfeito, até que ele girou o mecanismo e um fio se partiu, fazendo um alarme começar a tocar. Ele xingou baixinho e colocou o pente na bolsa, ouvindo os guardas correndo na sua direção. ‘Essa será uma noite e tanto’ pensou.”
Já apresentamos o mundo de Argentea, junto com o seu sistema de regras de uma página. Agora, vamos conhecer um pouco mais do cenário.
Um pouco de ‘Lore’
O termo ‘Lore’ é muito usado em RPG, podendo ser traduzido como ‘folclore’ em seu sentido. Lore é o conjunto de informações de conhecimento geral e popular, um apanhado de lendas, tradições orais, contos de fadas e outras coisas que ‘todo mundo sabe’. Começo aqui uma pequena série que chamarei de Folk“Lore”, apresentando aspectos do continente de Argentea no formato de textos sem regras – uma vez que o objetivo inicial de Argentea é usar o mínimo possível de regras. Elas virão em breve, não se preocupem.
A Criação dos Rronn
Não existem registros de quando os primeiros habitantes de Argentea chegaram até o continente voador, mas a tradição oral dos Rronn conta que o Grão-Mestre os criou para construir seu reino há mais de cem gerações. A tradição escrita não é forte entre os Rronn, que raramente sabem ler ou escrever mais do que o mínimo necessário para o dia a dia. Desta forma, a maioria da história e cultura Rronn é transmitida na forma de contos e narrativas, e se tornar um guardador de histórias (ou Guarda-Contos) é uma grande honra.
Ainda de acordo com a tradição oral, o Grão-Mestre veio do “Além Terra”, o ‘local dos deuses’. Traído pelos outros deuses e carregando grande tristeza em seu coração, ele decidiu se exilar de seu plano natal e viver isolado no plano material, em um refúgio onde nenhum dos traidores jamais o poderia encontrar. Ele encontrou este refúgio em Argentea.
Os primeiros Rronn surgiram quando o Grão-Mestre utilizou seus poderes divinos para evoluir alguns felinos que ele adotou ao chegar em Argentea, e sua criação tinha o propósito de proporcionar ao Grão-Mestre um grupo de serviçais e protetores. A sociedade Rronn se organizou em torno de quatro clãs, que funcionam como quatro grandes famílias trabalhando juntas com o objetivo de servir ao Grão-Mestre: Os Caith’Sith, os Siamês, os Mainecon e os Sphynx. Os líderes Rronn são escolhidos entre os anciões de cada clã, funcionando como um conselho de anciões que coordena os mais jovens enquanto obedece as ordens diretas do Grão-Mestre.
A base dos clãs são as pequenas diferenças entre os Rronn: Como os gatos originais eram de raças diferentes, os Rronn criados à partir deles herdaram algumas de suas características e ficaram diferentes uns dos outros também. Eventualmente os descontentes e aqueles que por um ou outro motivo se desligavam de seus clãs criaram um quinto clã, o qual não depende de traços para definir os seus, apenas suas escolhas. Seu nome é Es’Erde.
Os anos e as gerações de Rronn foram se acumulando conforme eles trabalhavam na criação de Felícian, a cidade-fortaleza onde o castelo do Grão-Mestre foi construído. Após completar a cidade, os Rronn começaram o difícil trabalho de explorar e conquistar as terras ao redor, expandindo os domínios do Grão-Mestre e criando novas aldeias para sua população crescente. A aldeia que se tornaria Forte Limiar foi criada nesta época, sendo adotada como base por um grupo que se tornaria um dos mais importantes de Argentea: a Guilda dos Exploradores.
Com o tempo os Exploradores começaram a encontrar ruínas de uma civilização antiga, e o Grão-Mestre designou um grupo de paladinos para assumir a tarefa de coletar relíquias e itens mágicos destes locais, batizando-os de Guarda Felina. Escolhidos entre os melhores guerreiros que os Rronn tem para oferecer, a Guarda Felina cresceu em poder e influência conforme cumpria missões diretamente para o Grão-Mestre, sem obedecer – ou mesmo reportar – ao Conselho dos Rronn. Eles foram também os primeiros a encontrar aqueles que se tornariam os maiores inimigos dos Rronn: Os Fzzit.
Mas isso é assunto para um outro dia.
A Geografia de Argentea
Argentea tem a forma de uma grande gota larga (ou de um balão de fala estilo quadrinhos), com a parte mais fina se curvando na forma de uma pequena ‘cauda’ paralela ao continente. Ao norte ficam uma grande floresta selvagem e duas montanhas gêmeas, as Torres do Céu, de cujas profundezas verte a nascente de água doce que mantém o nível de água do Lago Treligan sempre igual. Na margem norte do Treligan fica Felícian, a capital dos Rronn.
Felícian é uma cidade fortaleza, de onde o Grão-Mestre rege os Rronn e de onde os muitos barcos de pesca ancorados em seu porto partem para coletar no lago os peixes que alimentam a maior parte de seus súditos. Dentro de suas muralhas também fica o Elísio, o castelo sagrado onde mora o Grão-Mestre e o punhado de Rronn escolhidos por ele para servi-lo (a Guarda Felina), um local protegido e proibido para todos os outros. Ao redor do lago surgem alguns riachos que irrigam o oeste e o sul da parte principal do continente, e um rio que serpenteia até despencar pela beirada de Argentea. A queda é conhecida como Lágrima Eterna, e o rio é chamado de Rio Cauda pelos Rronn, e sabe-se lá como pelos Fzzit (uma vez que nenhum Rronn entende a língua de serpente que eles falam).
Ao noroeste fica a Montanha dos Goblins, cuja rede de cavernas foi infestada por estes monstros há várias gerações. Ninguém sabe dizer de onde eles surgiram, pois diferente de todos os outros monstros que habitam o continente, não existem relatos de goblins em Argentea no passado. Entretanto os goblins de Argentea tem se mostrado cruéis e sanguinários, e representam uma ameaça digna de respeito tanto pelo seu número quanto pela ousadia de seus ataques.
No extremo oeste fica a segunda maior cidadela Rronn, o Forte Limiar. Originalmente construído para vigiar as montanhas ao sul – e os temidos Fzzit além delas – o Forte agora se viu preso entre a ameaça dos Fzzit e dos goblins, e se tornou um importante ponto estratégico para os Rronn. Limiar também é a sede da Guilda dos Exploradores, um grupo que financia grupos para localizarem e explorarem as ruínas que existem pelo continente, traços de uma civilização extinta que habitou Argentea antes da chegada dos Rronn. Muitos aventureiros visitam Limiar em busca de missões, ótimas oportunidades para se conseguir fortuna e fama – desde que você não tenha medo dos riscos envolvidos…
Ao sul de Argentea, onde a terra se afina formando a ‘cauda’ torta, existe uma cadeia de montanhas e terreno acidentado quase impossível de se cruzar. Chamada de Barreira pelos Rronn, estas montanhas delimitam o começo do Reino dos Fzzit, e servem como uma primeira linha de defesa contra invasores. Além disto, segundo os espiões que conseguiram retornar, o povo serpente construiu há muito tempo uma muralha gigantesca e mágica além da Barreira, separando seu lado do mundo do restante de Argentea; além desta muralha fica Ssenescal, o reino Fzzit.
No total, Argentea tem cerca de 250 km de largura por quase 500 km de comprimento, e uma área habitável com mais de 50 mil quilômetros. Muito pouco deste território é realmente habitado, apesar das dezenas de pequenas aldeias que se espalham pela sua extensão.
Não existem outras terras ao alcance da vista, seja acima ou abaixo de Argentea, e se não fosse pelo surgimento dos Goblins há algumas gerações, os Rronn jamais sequer pensariam na existência de algo ‘além’ de sua terra. E este é um mistério cuja investigação não é incentivada pela Guarda Felina, os paladinos do Grão-Mestre.
Por enquanto é só, mas em breve farei mais um artigo, falando mais sobre a sociedade dos Rronn. Até a próxima, players!