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O Cavaleiro sem Cabeça – D&D 5e

O Cavaleiro sem Cabeça ou "Headless Horseman" com estatísticas para D&D 5ª edição.


Por: Ghost | 02/11/2018

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Salve, salve, aventureiros!

O Halloween já passou, mas ainda temos mais um conteúdo para vocês, a adaptação para D&D de uma das lendas mais icônicas dessa data: o famigerado Cavaleiro sem Cabeça (“Headless Horseman”) para esse que é o sistema mais querido por tantos jogadores.

O Cavaleiro sem Cabeça é uma imagem presente na cultura pop moderna (ainda que nos últimos anos pareça ter perdido um pouco a força em relação às décadas de 80 e 90, mas estaria tergiversando demais a respeito).

Confesso aqui que a pesquisa para esse artigo me surpreendeu. Imaginava ser uma lenda tipicamente americana, mas descobri que sua origem remonta, pelo menos, ao início da Alta Idade Média.

A Lenda de Sleepy Hollow – O Conto de Washington Irving

As versões mais comuns do Cavaleiro sem Cabeça, que povoam os filmes, séries e desenhos atuais, é baseada nesse conto. Publicado em 1820, de autoria de Washington Irving, o conto nos mostra a história de Ichabod Crane, o rapaz alto, extremamente magro e bastante desengonçado que vivia no vilarejo de Sleepy Hollow.

Em dado momento Ichabod se apaixona pela bela Katrina Van Tassel. Embora desengonçado, ele era considerado um bom partido pelas moças da vila, sendo gentil, de bom gosto e bem sucedido. Ocorre que Ichabod tinha um grande rival: Abraham “Brom Bones” Van Brunt, uma espécie de valentão local (pense no Gaston, de “A Bela e a Fera“). A moça corresponde às investidas de Ichabod, inicialmente, mas quando este a pede em casamento durante uma grande festa, a proposta é recusada, partindo o coração do protagonista.

Ichabod deixa a festa arrasado, mas seu dia ainda estava longe de terminar. No caminho de volta para casa ele começa a ser perseguido pelo lendário Cavaleiro Sem Cabeça, o fantasma de um soldado Hessiano decapitado por uma bala de canhão durante a Guerra da Independência Americana.

Ichabod faz seu cavalo correr como nunca até cruzar uma ponte, onde supostamente estaria a salvo já que assombrações dessa natureza seriam incapazes de cruzar água corrente. Assim que Ichabod relaxa, entretanto, ele é atingido pela cabeça decapitada do Cavaleiro, que a arremessou.

Headless Horseman

The Headless Horseman Pursuing Ichabod Crane, de John Quidor (1858). | Fonte: Wikipedia.

No dia seguinte nada além do chapéu que Ichabod usava foi encontrado, rodeado de pedaços de uma abóbora quebrada.

O conto deixa a entender que o Cavaleiro Sem Cabeça era, na verdade, Brom Bones disfarçado, na tentativa de colocar o seu “rival” para correr em definitivo.

O conto de Washington Irving inspira a maioria da inúmeras adaptações (como essa, essa ou essa outra) que vemos no cinema e TV nas últimas décadas. Em algumas versões a cabeça decapitada é substituída por um Jack-O’-Lantern (provavelmente para tornar a assombração mais “palatável” para crianças). A influência, inclusive, não se limita às aparições diretas do Cavaleiro. O vilão Espantalho, do Universo DC, por exemplo, não se chama Jonathan Crane à toa, e sua descrição física é bem semelhante à de Ichabod Crane no conto de Irving.

Ocorre que essa não é, nem de longe, a versão mais antiga da lenda.

O Folclore Holandês

A verão norte-americana do Cavaleiro Sem Cabeça provavelmente foi trazida pelos holandeses, já que se trata de uma presença comum no folclore desta região. Esta versão era conhecida como “Dullahan” ou “Gan Ceann” não estranhe os nomes com sonoridade celta… já chegaremos lá). Nesta versão o cavaleiro tradicionalmente carregava sua cabeça sob o braço direito e é capaz de cuspir fogo. Em outras variantes sua cabeça é deformada, com um sorriso de orelha a orelha e olhos enormes e vacilantes (lembrando o já citado Jack-o’-Lantern). Em outras versões, ainda, a cabeça brilha como a lanterna de um vigia e é usada para iluminar o caminho do Cavaleiro em estradas isoladas.

Dullahan

O Dullahan (ou Gan Ceann, do gaélico irlandês) é um dos seres mais espetaculares do reino das fadas da Irlanda. | Fonte: Pinterest

Versões Anteriores

A origem do mito holandês, entretanto, pode ser rastreada até uma época ainda mais antiga. Teria sido trazida por missionários holandeses que foram às ilhas britânicas ainda por volta do século VI, e proibido o culto a Crom Dubh, um deus celta da fertilidade cultuado na região da atual Irlanda que exigia sacrifícios humanos a cada ano.  A forma mais usada para realizar esses sacrifícios, como você já deve ter adivinhado, era a decapitação.

Com a proibição do culto a Crom Dubh a população rapidamente adaptou a história, criando uma presença fantasmagórica que buscava por corpos decapitados (em algum momento surgiu a variante de buscar corpos procurando uma cabeça para substituir a sua faltante). Com o tempo as referências ao próprio Crom Dubh desapareceram.

Histórias Tradicionais

Não há referência a histórias mais antigas do que as citadas no parágrafo anterior, mas há diversas variações que surgiram até chegar no conto imortalizado por Irving.

Em algumas histórias o Dullahan está sempre acompanhado de uma Banshee, guiando uma carruagem negra puxada por seis cavalos. Em qualquer lugar que essa carruagem pare, alguém morrerá. O Dullahan é capaz de abrir qualquer porta ou tranca (ou talvez atravessá-las?) e a única maneira de detê-lo é com um pouco de ouro (por menor que seja a quantidade, será suficiente para barrá-lo). Trata-se de uma lenda irlandesa, afinal.

Nessa caracterização o Dullahan está muito mais próximo da nossa visão da Morte como O Ceifador, sendo por vezes descrito como uma figura esquelética que carrega um chicote feito de vértebras humanas.

Algumas outras versões citam que a carroça viaja tão rápido que o atrito com é capaz de atear fogo nos arbustos na beira das estradas (e aqui é impossível não lembrar, ainda que remotamente, do Motoqueiro/Cavaleiro Fantasma da Marvel).

O que todas as versões da lenda têm em comum é que abordam o medo humano da morte, e materializam esse medo em uma forma que pode ser transmitida para ouvintes mais jovens.

A Versão Para D&D

Como há diversas versões da lenda tomaremos a liberdade de pegar as partes mais interessantes de cada uma e acrescentar um tempero nosso. Como sempre, vale a Regra de Ouro do RPG.

O Cavaleiro sem Cabeça é, antes de mais nada, um espírito de vingança. Para que esse tipo de morto-vivo surja são necessários dois pré-requisitos:

  • Uma execução particularmente cruel, consumada com uma decapitação (provavelmente após tortura física e/ou psicológica).
  • O executado precisa ser inocente. Um julgamento de cartas marcadas ou uma incriminação falsa (talvez envolvendo uma conspiração complexa).

Caso essas duas condições sejam satisfeitas, há a possibilidade de o executado retornar do mundo dos mortos como um Cavaleiro Sem Cabeça.

NOTA: Aqui vai um detalhe um pouco mórbido sobre enforcamentos. Se a corda for muito fina e a queda muito longa, ele pode terminar em uma decapitação ao invés de enforcamento. Dependendo do sadismo do mestre, uma cena culminando em uma execução desastrosa assim poderia gerar um Cavaleiro sem Cabeça.

A maldição desta criatura é particularmente cruel, uma vez que ela está ligada ao local de sua execução, mas a maneira de destruí-la completamente passa por descobrir a verdade sobre sua morte, inocentando o condenado, trazendo justiça para os vivos e descanso para o morto. Caso já tenha se passado muito tempo pode ser bem difícil de cumprir estes requisitos, levando a uma investigação mais longa. O ponto é que a inocência do espírito deve ser descoberta, provada e tornada pública. Somente assim haverá descanso.

Caso o Cavaleiro seja destruído sem que esses requisitos tenham sido cumpridos, ele ressurgirá no primeiro anoitecer da próxima mudança de fase da Lua (ou o equivalente no mundo de campanha em questão).

A aparição deste morto-vivo é sempre impressionante. Ele sempre cavalga um Pesadelo (Nightmare, Monster Manual p. 235). A aparência do cavaleiro varia em alguns detalhes, podendo variar inclusive dentro do mesmo mundo de campanha (mas não muda caso ele tenha o corpo destruído e ressurja depois). Algumas vezes simplesmente não há cabeça (nesse caso podem brotar chamas do pescoço), em outras ela a carrega em uma das mão ou sob o braço, ou ainda, ela pode ter sido substituída por um Jack-o’-Lantern.

Cavaleiro Sem Cabeça

Headless Horseman

O novo pesadelo dos jogadores. | Fonte: Pinterest.

Headless Horseman
Monstruosidade médio, caótico e mal
Classe de Armadura 15 (armadura natural)
Pontos de Vida 183 (40d8)
Deslocamento 10m, cavalgando 30m

FOR DES CON INT SAB CAR
13 (+1) 13 (+1) 12 (+1) 12 (+1) 10 (+0) 15 (+2)

Sentidos Percepção passiva 12
Idioma Não aplicável. O Cavaleiro é sempre mudo, e não conhece linguagens gestuais.
Nível de Desafio 10 (5.900 XP)


Visão Assustadora (Horrifying Vision): Cada criatura que não seja um morto-vivo (à escolha do Cavaleiro) dentro do alcance deve fazer um teste de resistência de Sabedoria para evitar ficar Assustado (Frightened).

Fortitude de Morto-Vivo (Undead Fortitude): Se o Cavaleiro for reduzido a 0 pontos de vida o Cavaleiro pode fazer um teste de resistência de Constituição (CD = 5 + Dano tomado). Em caso de sucesso os pontos de vida são reduzidos para 1. O efeito é negado se o dano causado for do tipo Radiante ou vier de um sucesso decisivo.

Morte e Restauração (Death and Restoration): Caso o corpo físico do Cavaleiro seja destruído, sua mente e sua vontade não se esvairão. Continuarão presentes no ambiente, e formarão outro corpo na próxima mudança de lua (ou equivalente no mundo de campanha em questão).

Magia Inata (1/noite): até uma vez por noite o Cavaleiro é capaz de conjurar uma magia equivalente a Bola de Fogo (8d6 de dano), mas no formato de um Jack-O’-Lantern.

Ações


Ataque Múltiplo: O Cavaleiro sem Cabeça é capaz de fazer três ataques por rodada com uma espada longa.

Espada Longa (Longsword): +8 para atacar, alcance 5 ft (1,5 m), um alvo. Dano: 1d8+1 dano cortante (slashing).

Henrik “Ghost” Chaves

Henrik “Ghost” Chaves é fã de D&D (mas acha que a edição 3.5 foi a melhor de todas) e de tudo relacionado aos Mitos de Cthulhu. Música (rock), literatura (fantástica), cinema (pipoca) e boardgames (modernos) estão entre seus outros hobbies.