Review – Call of Cthulhu: The Official Video Game
Call of Cthulhu recebe sua primeira adaptação para os consoles modernos. Confira o que achamos do game.
Por: Ghost | 26/11/2018
Saudações, aventureiros!
Hoje vamos para um post um pouco diferente do que costumamos a fazer aqui: um review (ou seria mais uma opinião pessoal?) de um jogo de vídeo-game.
É o primeiro post desse estilo aqui no UniversoRPG, e há um bom motivo. Desde que entramos no ar, no finalzinho de 2016, nosso foco sempre foi a “diversão offline”: RPGs e jogos de tabuleiros modernos (que o pessoal costuma chamar de board games). Ocorre que Call of Cthulhu tem um diferencial, já que é inspirado em um dos RPGs preferidos da nossa equipe.
Eras passadas
Este, definitivamente, não é o primeiro jogo inspirado no universo de Lovecraft (quem sabe um dia fazemos um artigo falando sobre esses títulos?), mas é um dos que teve mais hype até hoje, mesmo por ser multiplataforma. A maior parte dos games anteriores foi lançada apenas para PC, embora alguns tenham tido versão para Xbox (notoriamente o clássico “Dark Corners of Earth”) e mesmo para celulares (“Wasted Land”, que também teve versão para PC).
Call of Cthulhu foi lançado em 30 de outubro de 2018, simultaneamente para Windows, Playstation 4 e Xbox One, após cerca de quatro anos de desenvolvimento pela Cyanide.
Trata-se de um RPG de ação (ou algo bem parecido com isso. Discutirei as mecânicas do jogo logo abaixo) e, como tal, você tem uma “ficha de personagem” que pode ser customizada no começo e desenvolvida ao seu gosto ao longo do game, à medida em que você for ganhando pontos de personagem (dica: coloque alguns pontos em medicina e ocultismo no começo do jogo, pois depois você só evoluirá essas habilidade encontrando livros específicos).
Essência Lovecraftiana
Logo de cara é possível perceber o cuidado que o jogo tem com as referências à obra do cavalheiro de Providence. O clima é bem o dos contos mais clássicos de Lovecraft (principalmente “O Chamado de Cthulhu” e “Horror em Red Hook”), com o jogo se passando na década de 1920. O protagonista é Edward Pierce, um detetive particular, veterano da Primeira Grande Guerra, que afoga seus traumas em álcool e tranquilizantes.
Logo no início do jogo Edward aceita um caso envolto em mistério, com uma série de lacunas a serem preenchidas, que o leva à cidade insular de Darkwater. Lá Edward conhecerá diversas pessoas que o ajudarão (ou não) a solucionar o caso.
Mecânicas de Jogo
Basicamente as mecânicas são de um RPG de ação: você testa habilidades em certos momentos, e após passar por pontos-chave do jogo, recebe pontos de personagem com os quais você melhora suas habilidades. Atingindo certos níveis em suas habilidades, você desbloqueia opções de diálogo ou mesmo jeitos alternativos de resolver enigmas.
A maior parte do jogo é baseada em diálogos e em investigação, com muitas leituras de livros e diários (nesse aspecto lembra bastante o RPG de mesa).
Em alguns momentos do jogo você entra uma espécie de “visão de detetive“. Nesses momentos você investiga um local onde ocorreu um evento de interesse e, encontrando as pistas certas, é capaz de reconstituir a cena.
Também há uma mecânica de stealth, com você precisando se movimentar fora das vistas dos inimigos. Não há combate no jogo, exceto nos capítulos finais (e mal dá para chamar de mecânica de combate).
Muitos reviews compararam a essência de Call of Cthulhu aos antigos games point-and-click (famosos principalmente pela Lucas Arts), mas acredito que a melhor comparação possível é o clássico Phantasmagoria.
No final das contas, pessoalmente, acho que o game seria mais interessante se substituísse algumas dessas mecânicas por Quick Time Events (mesmo sabendo que essa minha opinião atrairá a fúria de gamers mais conservadores).
O jogo apresenta quatro finais possíveis. Dois deles são acessíveis independentemente das escolhas feitas ao longo da história, mas os outros dois dependem de combinações bastante intrincadas, sendo bem difíceis de acessar sem o uso de guias publicados pelas interwebs da vida.
Os Prós
Indiscutivelmente os maiores atrativos do jogo são o clima e as referências lovecraftianas. Todas as principais características das obras de Lovecraft estão lá: a cidade afastada e decadente, um culto profano, criaturas capazes de levar a mente humana à loucura com um simples vislumbre.
Além do clima, uma série de referências diretas à obra está presente: criaturas, livros, e mesmo personagens famosos são citados nominalmente, extraindo sorrisos de satisfação dos fãs dos Mitos de Cthulhu.
O roteiro do jogo é bem envolvente, embora infelizmente não desenvolva muito o personagem principal (e nenhum dos outros, para ser bem honesto). Trata-se de um roteiro bem plot driven.
Os Contras
Nem tudo são elogios, infelizmente. O primeiro ponto negativo que salta aos olhos são os gráficos, que parecem saídos de um jogo de PS3 (e do início da geração ainda!!!). Claro que CoC não tem pretensão de ser um jogo AAA, e por isso dá para ser um pouco condescendente nesse aspecto, mas algumas falhas são mais difíceis de se perdoar em um game lançado em 2018.
Entre elas estão a constante falta de sincronia entre a dublagem e os movimentos dos lábios dos personagens, e mesmo alguns “bugs” gráficos (como de vez em quando um NPC sumindo e reaparecendo logo ao lado). Vacilo em um jogo que teve bastante tempo para ser polido.
Outro ponto negativo é a salada de mecânicas. Não sei se foi uma tentativa de agradar vários públicos, ou se a ideia era variar bastante mesmo. Pessoalmente acho que o game poderia limar algumas delas e desenvolver melhor outras. A “visão do investigador”, por exemplo, é bem interessante e merecia mais destaque.
O veredito
O jogo é bom e vale a pena. Só não é para todos os públicos. Se você é do tipo que tem preguiça de diálogos (acredito que não seja o caso, ou não estaria lendo um blog de RPG), fique longe. Mas se você curte histórias de investigação, com a verdade sendo revelada aos poucos, vá fundo, principalmente se é fã do universo criado por H.P. Lovecraft.
Henrik “Ghost” Chaves
Henrik “Ghost” Chaves é fã de D&D (mas acha que a edição 3.5 foi a melhor de todas) e de tudo relacionado aos Mitos de Cthulhu. Música (rock), literatura (fantástica), cinema (pipoca) e boardgames (modernos) estão entre seus outros hobbies.