Trapaceando nos dados
Roubar na rolagem de dados nem sempre precisa ser uma coisa ruim.
Por: Zamboman | 09/11/2016
Imagine a seguinte situação: você passa horas e mais horas elaborando aquela ficha do NPC importante para o principal encontro da sessão. Pensa em como vai interpretá-lo para dar mais dramaticidade à cena, separa as principais habilidades, armas, magias do seu livro de regras para usar em conjunto com esse NPC. Porém, na hora do encontro o NPC é derrotado em menos de duas rodadas, jogadores acabam sem as informações importantes e o mestre fica frustrado.
Isso já aconteceu com você antes?
Pois bem, ao final dessa sessão de jogo nosso mestre nos contou em off sobre importância desse NPC para a campanha e de como ele havia passado horas preparando a ficha dele. Na maior tranqüilidade perguntei: “porque você não roubou nos dados?”
Roubar nos dados não é legal! (Será mesmo?)
Depois de esclarecer o pequeno mal entendido pelo uso do termo “roubar”, expliquei que eu teria ignorado os pontos de vida do NPC e teria continuado o combate até o ponto que julgasse necessário. Trapaça? Talvez….
Sempre que mestro uma aventura e/ou campanha, penso que as pessoas estão ali reunidas para se divertir e isso inclui o mestre. Se o tal NPC era importante para o desenvolvimento da campanha, porque não burlar o sistema de regras e garantir que as informações que você passou horas planejando cheguem até as mãos dos personagens?
Outra situação parecida é o combate com NPCs mais fortes que os personagens dos jogadores. Às vezes o jogador não está se sentindo tão à vontade com seu personagem porque em determinadas situações ele não é tão útil quanto os demais ou porque ele não entende bem as regras e criou um personagem desequilibrado. Então porque não quebrar as regras novamente para incentivar o jogador? Os inimigos podem errar os ataques ou conceder algum tipo de vantagem para aquele personagem, por exemplo. Trapaça? Acho que não…
Existem inúmeras situações onde mentir sobre a rolagem de dados pode trazer benefícios a sessão. O famoso “Escudo do Mestre” não deve servir apenas para consultar tabelas-resumo e rolar dados à parte; ele pode ser usando sim para trapacear nos dados quando a situação for favorável ao jogo. Veja bem, eu disse favorável ao jogo e não ao mestre, ok!? Caso contrário o desafio aumenta tanto (e por que não a desconfiança?) que logo os jogadores vão perder o interesse pela sua aventura e/ou campanha.
Uma questão de confiança (E a vantagem do NPC!)
Um efeito colateral desse “truque” é que com o tempo seus jogadores aprendem a não confiar mais em suas rolagens de dado; e com razão, a final de contas você trapaceia. Então, como usar esse trunfo sem que isso abale sua credibilidade? Existem algumas possibilidades. Uma delas é que sempre que possível, faça as jogadas sem o escudo, na frente dos jogadores. E vá alternado durante a sessão. Assim eles nunca saberão quando os dados são manipulados de verdade.
Outra opção é fazer uma rolagem atrás do escudo e depois mostrar o resultado aos jogadores. Isso funciona muito bem em combates quando os NPCs tiram números baixos nas suas jogadas de ataque, principalmente em falhas críticas. Com o tempo seus jogadores passam a não perceber quando as falhas são verdadeiras ou não.
E ainda temos como último recurso a questão do NPC. Quase todos os sistemas possuem instruções sobre a criação de Personagens Não-Jogadores ou em inglês Non-Player Character (NPC). Eles podem ou não seguir as regras do sistema e isso deixa uma brecha enorme para o mestre. Lembro-me de uma matéria que li a muito tempo sobre um cenário de jogo onde os leitores queriam saber a ficha de um determinado NPC porque seus poderes eram incríveis. Quando o autor foi questionado, ele disse que tal NPC não possuía ficha nem estatísticas de jogo. Ele era apenas um conceito e que seus poderes foram baseados em especulações sobre poderes existentes no livro básico. Trapaça? Também acho que não…
Então lembre-se, você está jogando para se divertir com seus amigos e se para isso for preciso que você quebre algumas regras, vá em frente. Pois a diversão vem em primeiro lugar.
Marcelo JK “Zamboman”
Jogador e Mestre de RPG desde a época em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Fã de ficção científica, mestre de Star Wars Saga e mestre em tirar aventuras improvisadas da cartola.