Pagar para jogar? Cobrar para mestrar?
Você é a favor ou contra pagar alguém para mestrar? Veja alguns prós e contras que listamos para vocês.
Por: Ghost | 02/09/2020
Salve, salve, aventureiros!!
Segurem-se em suas cadeiras que o tema de hoje é polêmico: mestres de RPG que cobram para mestrar.
Já faz um bom tempo que pensamos (e adiamos, por diversos motivos) nesse post aqui no UniversoRPG, pois se trata de algo que basicamente todas as semanas é abordado nos principais grupos de RPG da rede social de Mark Zuckerberg. E geralmente acontecem algumas discussões acaloradas, com gente defendendo (ou condenando) a prática com unhas e dentes.
Mas e aí? É válido o mestre cobrar para mestrar?
A reposta curta é: depende. Se quiser saber a resposta longa, continue lendo, pois como em qualquer outro assunto polêmico, depende muito de contexto.
O Grupo de Amigos
O clássico grupo de RPG de antigamente surgia a partir de alguém que comprava (ou, em tempos mais antigos, xerocava) um manual básico de um sistema qualquer (aqui no Brasil grandes chances de ter sido GURPS, Vampiro ou D&D) e chamava os amigos para jogar. Foi mais ou menos assim que a equipe do UniversoRPG começou a jogar. Inicialmente em grupos separados e, depois que nos conhecemos, formamos o nosso (que entre idas e vindas persiste até hoje.. e lá se vão quase 25 anos jogando juntos.).
Nessa situação, sobretudo quando o grupo é formado por pessoas mais jovens (entenda-se: estudantes do ensino médio, por volta dos 15 anos de idade, e com poucos recursos financeiros) é bem normal que se faça um acordo tácito: alguém fornece o local de jogo (sua casa, em geral), e os outros trazem salgadinhos e refrigerantes para acompanhar a sessão. De certa forma, quem “fornece” a casa, “cobra” para isso.
“Mas, Ghost! Você não falou em O MESTRE cobrar”.
Calma, jovens. Paciência é uma virtude que a geração Z precisa cultivar.
Normalmente, na situação acima, nem se cogita de o mestre cobrar pelo tempo dele, seja na sessão em si, seja no preparo dela (normalmente BEM mais demorado), ou mesmo pelo valor investido nos livros. Alguns grupos até fazem vaquinha para comprar os manuais de RPG, mas de forma geral, o mestre investe muito mais que os jogadores, e todos sabemos que são livros bastante caros, em geral (ao menos os mainstream. Na cena independente a coisa é um pouco diferente).
O Grupo de Desconhecidos
Com a popularização da internet nos anos 2000 algo um pouco diferente começou a acontecer: pessoas começaram a combinar mesas via web (e posteriormente mesmo a jogar via web, coisa que a pandemia que estamos vivendo tornou bem mais comum).
Nesses grupos, ao menos no início, não há o laço de amizade que une os grupos descritos no item anterior deste artigo. Dessa forma o clima de jogo pode ser diferente, com os jogadores tendo mais expectativas sobre o mestre, e/ou abandonando a mesa caso a sessão não atinja as expectativas criadas. Na verdade, vários motivos (especialmente o choque de cultura que acontece de um grupo para outro) podem levar os jogadores (ou mesmo o mestre) a abandonar essas mesas, tornando o modelo bem mais rotativo.
Mestres Profissionais
De uns anos para cá aconteceu um fenômeno interessante. A “profissionalização” do RPG. Começaram a surgir mestres que cobram para mestrar (e mesmo espécies de associações para isso. A Jogarta, por exemplo, tem um sistema de Mestres de Aluguel). E acredito que a Roleplayers , que recentemente “encerrou” suas atividades, tenha sido pioneira no Brasil no assunto.
O ponto é que mestrar realmente é uma tarefa árdua. Requer planejamento, preparação, familiaridade com o mundo de jogo, criatividade, flexibilidade (para improvisar quando os jogadores fazem coisas completamente fora do esperado). Ser mestre (ou guardião, ou seja lá como o seu sistema de jogo chame) requer bem mais tempo do que as horas de sessão com os jogadores.
Dessa forma é natural que aqueles que conseguem realizar a tarefa com destaque terminem querendo cobrar para fazê-lo. E não há problema nenhum nisso, com uma única exceção em potencial: a do grupo de amigos. Se você joga com um grupo há anos, todos são bem amigos, e, do nada, você resolver que vai cobrar deles para mestrar, pode ser que eles fiquem bem chateados (eu ficaria).
E os valores?
Nesse caso, aventureiros, nada melhor do que o mercado para decidir. O mestre que anunciar seus serviços o faz pelo valor que achar melhor e na modalidade que preferir: seja por hora, por jogador para sessão fechada, por pacote de sessões ou seja lá o que for. Se tiver quem pague, ótimo, caso contrário precisará rever seus preços e/ou sua estratégia.
Vale a pena frisar que quando você contrata um mestre profissional (independente do valor envolvido) espera-se que a preparação, qualidade dos props (sejam físicos ou digitais), versatilidade, organização e jogo de cintura sejam todos maiores do que a média no caso de mestres “amadores”. Acredito que aqui, a gestão de expectativa da parte contratante, é o maior de todos os problemas. O que é uma sessão de jogo boa e de qualidade, pode variar de pessoa pra pessoa.
Uma ferramenta que vários mestre profissionais tem utilizado para organizar suas mesas (físicas ou on-line) é o RPG Delivery, que também pode ser utilizada por jogadores para encontrar mesas com vagas disponíveis (usando até geolocalização). É praticamente um Tinder de RPG (com as devidas ressalvas, é claro).
Um mercado como qualquer outro
Por fim, como em tantos outros mercados, quem decide se ele continua existindo – e o quanto vale – é o consumidor final.
Se você não consegue um mestre para o grupo e acha que não é válido pagar por um, ainda tem a possibilidade de comprar (ou pegar emprestado) um manual básico, ler e mestrar.
Se ninguém no grupo tem tempo (ou disposição) para criar uma história do zero ou até mesmo, ler uma aventura pronta e fazer suas anotações (o que também dá trabalho, e já falamos sobre isso aqui no UniversoRPG), talvez seja a hora de discutir com seus amigos RPGistas se não é o caso de pagar por uma sessão. Nos mesmos grupos de RPG volta e meia surge alguém oferecendo serviços. Uma sessão de teste pode custar por pessoa bem menos do que um hambúrguer artesanal.
Sempre sou à favor da experiência. Se você e o seu grupo tiver condições, faça o teste para tirar suas conclusões se vale ou não contratar uma pessoa externa ao grupo para mestrar. E se fizer, conta pra gente lá nas nossas redes como foi a experiência.
Henrik “Ghost” Chaves
Henrik “Ghost” Chaves é fã de D&D (mas acha que a edição 3.5 foi a melhor de todas) e de tudo relacionado aos Mitos de Cthulhu. Música (rock), literatura (fantástica), cinema (pipoca) e boardgames (modernos) estão entre seus outros hobbies.