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Baú do Mestre | Dicas

O RPG (não) está morto!

O RPG não morreu e está mais forte como nunca.


Por: Zamboman | 16/04/2019

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Mestre RPG

O post de hoje não é sobre dicas, cenários ou aventuras prontas. Hoje o assunto é um pouco mais filosófico.

Esses dias eu estava olhando os posts no Facebook e vi um comentário falando que o RPG havia morrido (ou estava morrendo), um tema recorrente, diga-se de passagem.

Fiquei horas me perguntando o que levou essa pessoa a fazer esse comentário, que impressões ela tinha e baseado em que, ela achava que o RPG havia morrido ou estava com os dias contados.

Pra mim, o RPG numa esteve tão bem “das pernas“. Arrisco dizer até que estamos vivendo sim, uma Era de Ouro do RPG e que, o que muitos vivenciaram nos anos 90, foi apenas o início ou descoberta do hobby.

Quero deixar bem claro que essa é a minha opinião pessoal sobre o cenário de RPG nacional.

Era uma vez…

Bom, eu comecei a jogar no finalzinho dos anos 90, entre 95 e 2000. Aqui já temos duas visões diferentes, os que dizem que haviam muitos títulos e os que dizem que era difícil encontrar material sobre RPG.

E qual visão é a certa ou mais correta? Minha resposta mais imediata é: nenhuma. Naquela época, você precisava levar 3 fatores em consideração: onde você morava, qual era o seu poder aquisitivo e qual o seu domínio do idioma inglês.

Eu sou de Curitiba-PR e apesar de ser uma capital relativamente grande, na década de 90 lembro de apenas 2 lojas especializadas na cidade. Só essa realidade já era diferente em muitas outras cidades do país.

Nessa época eu ainda era estudante do ensino médio e meu poder aquisitivo se limitava ao dinheiro que meus pais me davam (eu não recebia mesada ou algo do gênero).

E para completar, meu inglês se limitava ao que aprendi na escola. Eu não tinha recursos financeiros para um curso ou aula particular, ou seja, livros importados além de caros, pra mim não teriam muita utilidade naquela época.

Agora que já temos esses fatores colocados à mesa, posso dizer que pra mim, quando eu comecei a jogar RPG, o cenário era bem ruim. Os livros eram caros, só estavam disponíveis nas lojas especializadas (raramente eu encontrava alguma coisa em livraria) e livros importados não eram uma opção.

Relatos como o meu não são difíceis de encontrar por aí.

E se você me perguntar se existiam muitos títulos em português, minha resposta é sim.

As edições mais antigas da Dragão Brasil traziam na contra-capa o anúncio de uma loja chamada Forbbiden Planet. Ali era possível ter uma lista rápida de boa parte das publicações que já existiam em território nacional.

Puxando uma das minhas antigas revistas aqui, mais exatamente a edição nª 50, publicada em 1999 (edição comemorativa de Tormenta), nossa lista era a seguinte:

  • First Quest
    • Livro de Regras
    • Livro de Aventuras
  • Karameikos (Kit)
  • AD&D
    • Livro do Jogador
    • Livro do Mestre
    • Livro dos Monstros
  • Forgotten Realms
  • Ravenloft: Domínios do Medo
  • GURPS 2ed
    • Império Romano
    • Conan
    • Cyberpunk
    • Fantasy
    • Tredoy
    • Horror
    • Iluminati
    • Magia
    • Supers
    • Viagem no Tempo
    • Viagem Espacial
    • Ultratech
  • Mini GURPS
    • Entradas e Bandeiras
    • O Descobrimento do Brasil
    • Quilombo dos Palmares
  • Tagmar
    • Livro Básico
    • Império
    • Livro de Criaturas
    • A Fronteira
  • Desafio dos Bandeirantes
  • Toon
  • Paranóia
  • Cyberpunk 2020
  • Castelo Falkenstein
  • Vampiro: A Máscara
    • Guia do Jogador
    • Guia dos Jogadores do Sabá
    • Caçadores Caçados
    • Brujah
    • Gangrel
    • Malkavian
    • Nosferatu
    • Tremere
    • Ventrue
    • Toreador
    • Assamita
  • Lobisomem: O Apocalipse
    • Guia do Jogador
    • Fúrias Negras
    • Roedores de Ossos
    • Filhos de Gaya
    • Andarilhos do Asfalto
  • Mago A Ascensão
    • Guia dos Jogadores
  • Shadowrun
    • Manual básico
    • Contatos
    • Metragem
    • Catálogo do Samurai Urbano
  • Era do Caos
    • Noturnos
    • Lendas
    • Caídos
  • Guia de Armas Medievais
  • Guia de Armas de Fogo
  • Demônios A divina Comédia
  • Arkanun
  • Anjos
  • Vampiros Mitológicos
  • Trevas
  • Itens mágicos vol I
  • Itens mágicos Vol II

Vale ressaltar que a lista acima não é definitiva. Estou mencionando apenas os livros listados numa propaganda da loja na época. Muitos outros títulos já existiam, o 3D&T, por exemplo, teve seu lançamento em 1998. E se você avança um pouquinho mais no tempo, ali entre 2000/2005 essa lista aumenta consideravelmente. E isso que eu nem listei aqui os títulos em inglês que poderiam ser encontrados nas lojas especializadas.

Alguns títulos ainda contavam com uma certa regularidade no lançamento de suplementos, o que acabava por estender ainda mais o tempo de vida e influência desse ou daquele sistema. A linha Storyteller, quando ainda era da White Wolf é um bom exemplo.

Olhando por essa ótica, o cenário de RPG nacional ia muito bem sim. Porém, com mencionei anteriormente, tudo dependia de onde você estava e se tinha dinheiro e/ou acesso para tanto. Haviam cidades onde era muito difícil encontrar esse tipo de material. Em cidades do interior, praticamente impossível, segundo alguns relatos de época.

Mas se havíam títulos disponíveis e eventos rolando pelo país, em que momento o RPG poderia ter morrido?

Pra mim essa “morte” começou a acontecer quando entrei na faculdade e perdi contato com os colegas da época do colégio. É a chamada início da vida adulta, sabe? Creio que todo mundo tem um fase da vida onde as prioridades mudam e algumas coisas são colocadas de lado.

O fato é que o RPG nunca saiu de cena, eu é que parei de olhar pra ele por um tempo. E acredito que é isso que acontece com a maioria das pessoas. Parar de acompanhar ou participar do mercado e cenário de RPG não significa que ele perdeu importância.

Os títulos de RPG sempre estiveram lá, alguns foram cancelados, outros foram surgindo e por aí vai. O mercado nunca parou, na minha opinião, ele se reinventou.

A revolução industrial do RPG: Os financiamentos coletivos

Numenera foi o segundo financiamento que participei em 2014! | Fonte: Reprodução.

Se a nossa Revolução Industrial mudou nossa economia e a forma como consumimos as coisas, os Financiamentos Coletivos mudaram o panorama do RPG, nacional e internacional.

Quem trabalha na indústria gráfica, sabe os desafios que existem em publicar alguma coisa. Se formos para um segmento de nicho, como é o caso do RPG, as coisas ficam ainda mais difíceis. Quantas editoras ou livros vocês viram “desaparecer” desde que começaram a jogar? Acredito que algumas, no mínimo.

Ao meu ver ferramentas como o Kickstarter, Catarse e o Apoia.se, para citar algumas, deram um novo fôlego para o mercado editorial e também abriram espaço para a entrada de novas editoras no mercado.

Como disse anteriormente, acredito que estamos vivenciando a Era de Ouro do RPG. Posso estar enganado, mas uma coisa é fato, quem começou a jogar RPG recentemente tem muito mais opções e variedade de estilos do que quem começou a jogar a cerca de 10 anos atrás. Quem dera eu tivesse essa mesma disponibilidade (e recursos) lá em 1996.

Marcelo JK “Zamboman”

Jogador e Mestre de RPG desde a época em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Fã de ficção científica, mestre de Star Wars Saga e mestre em tirar aventuras improvisadas da cartola.