O livro Mystico: um novo artefato para suas aventuras
O livro Mystico é um interessante artefato que você pode utilizar em suas aventuras de fantasia ou terror.
Por: Mantsor | 04/04/2018
Hoje vamos apresentar um artefato mágico bastante interessante, que eu utilizei em uma de minhas primeiras campanhas: trata-se do livro “Mystico”. Espere um momento, mas porque o “y” na palavra místico? Esse nome surgiu justamente por conta da inspiração para a criação desse artefato. Ele foi inspirado no livro Myst, peça fundamental do jogo de mesmo nome.
A ideia básica por trás deste artefato é que ele possui portais magicamente gravados em suas páginas, que conectam diversas dimensões alternativas. Uma pessoa desavisada que abrir o livro aleatoriamente será imediatamente transportada para a dimensão acessível pelo portal inscrito na página que foi aberta, juntamente com o livro. Trata-se de um “MacGuffin” que pode servir de gancho para novas aventuras, facilitar a transição entre cenários muito diferentes ou ainda ser o foco central de uma campanha.
Então vamos conhecer mais detalhes sobre esse livro e a sua fonte de inspiração.
O jogo Myst
Myst foi um jogo de PC lançado nos idos de 1993, que viria a se tornar um best-seller, com mais de seis milhões de cópias vendidas. Na época ele foi um jogo bastante revolucionário, pois foi um dos primeiros jogos a vir exclusivamente em CD-ROM, e possuía um visual que emulava cenários em 3D usando imagens pré-renderizadas. Trata-se de um jogo “point and click” de resolução de puzzles, que chamou a atenção pela sua atmosfera de mistério e a linda arte que compõe os cenários do jogo.
O jogador controla em primeira pessoa um personagem conhecido apenas como “O Estranho”. Ele inicia sua jornada numa ilha repleta de curiosas estruturas, objetos e mecanismos, cuja utilidade ele vai descobrindo ao longo do jogo. Embora esteja sozinho na ilha, ele logo descobre a existência dos “livros de ligação”, dos quais Myst é o principal. Esses livros foram escritos por um explorador conhecido como Atrus e permitem justamente a viagem do personagem para diferentes dimensões, conhecidas como “Eras”. A técnica para escrever esses livros foi desenvolvida por uma civilização ancestral conhecida como D’Ni, quase extinta por conta de uma doença.
O jogo fez tanto sucesso que rendeu quatro continuações (entre 1997 e 2005), um spin-off e até mesmo um MMORPG. Também foi lançado em diversas plataformas, como Sega Saturn, PlayStation, Nintendo DS, iOS e Android. Os criadores da franquia, os irmãos Robin e Rand Miller resolveram expandir ainda mais esse universo ficcional através de outras mídias, lançando uma série de livros (compilados na coletânea “The Myst Reader”) e quadrinhos. Algumas tentativas também foram feitas em alcançar o cinema e a TV, mas não foram bem sucedidas.
E como o mundo rpgístico não podia ficar de fora, em 2015 foi lançado o RPG “Unwritten: Adventures in the Ages of MYST and Beyond”. Publicado pela editora Inkworks Productions, ele utiliza o sistema FATE Core e possui dois suplementos: “The Myst Saga”, que conta a cronologia da série e “The D’Ni Primer”, que explica a história da civilização D’Ni.
O livro Mystico
Ele parece um livro comum com uma capa de couro preta, um pouco desgastada pelo tempo, mas nada assustador como um tomo ancestral encapado em pele humana. Intrincados símbolos e algumas palavras de uma língua esquecida, ambos escritos com uma tinta dourada, cobrem parte da capa. Suas páginas, embora amareladas, ainda estão intactas.
Provavelmente só grandes sábios ou estudiosos místicos serão capazes de interpretar o conteúdo deste tomo, pois ele foi escrito numa língua morta de uma civilização há muito extinta. Ninguém sabe ao certo quando ele foi escrito ou qual o seu autor. Alguns rumores entre os círculos místicos dizem inclusive que o livro veio de uma outra dimensão, trazido por acidente por um explorador incauto.
O pouco que é possível decifrar das escritas do livro permite apenas identificar em quais páginas se encontram certos portais e como ativá-los de maneira segura. Como exatamente esses portais funcionam e o motivo deles terem sido escolhidos permanece um completo mistério mesmo para os mais versados em escritas arcaicas. Cada página que contém um portal possui uma vívida ilustração da dimensão para a qual ele leva, como se fosse um quadro retratando uma paisagem.
As dimensões acessíveis através do livro Mystico são as mais diversas e não parecem ter nada em comum. Podem ser tão vastas como planetas ou tão limitadas quanto uma pequena ilha, ou até mesmo uma caverna ou castelo. Algumas são habitadas por diversas civilizações e outras parecem totalmente desprovidas de vida inteligente. Existem também dimensões misteriosas, que parecem ter sido recentemente habitadas mas que foram por algum motivo abandonadas.
A maneira mais simples de utilizar o livro é abri-lo numa página que contém um portal. Quem estiver segurando o livro (podem inclusive ser várias pessoas) verá um brilho crescente surgir da ilustração, que parecerá ganhar vida, se expandir para fora do livro e envolvê-lo completamente. A sensação será como se a pessoa estivesse caindo, porém ela não sofrerá nenhum dano e ainda estará segurando o livro nas mãos assim que tiver sido transportada para a nova dimensão. Alguém que estivesse observando sem tocar o livro veria o viajante simplesmente desaparecer em um clarão ofuscante.
Viajantes desavisados podem acidentalmente parar em qualquer dimensão e, se não souberem em que página se encontra sua dimensão original, podem ficar perdidos por um bom tempo. Para aqueles que conseguirem decifrar a sua escrita, existem encantamentos que podem ser invocados para impedir que alguém seja transportado acidentalmente ao abrir a página de um portal. Existem outros encantamentos ainda que permitem que uma pessoa seja transportada sem o livro! Cabe ao mestre criar outros possíveis encantamentos e definir exatamente como eles funcionam.
E finalmente também existem rumores de que um dos portais leva para uma cidade multidimensional, conectada diretamente a diversos portais, onde ainda habitam os últimos sobreviventes da civilização perdida que detinha os conhecimentos do livro Mystico. Seria um local como a cidade de Sigil, do cenário Planescape (D&D).
Usando numa aventura de Cthulhu
Embora o conceito original do livro Mystico tenha sido voltado para um cenário de fantasia, ele pode ser facilmente adaptado para uma cenário de mistério/terror moderno, como Chamado de Cthulhu.
O guardião pode começar por substituir as dimensões “genéricas” por alguns lugares mais interessantes para um cenário lovecraftiano: R’lyeh, Platô de Leng, Cidade dos Antigos, Carcosa, Irem e Yuggoth são algumas das possibilidades. É claro que o guardião pode diminuir a chance dos personagens enlouquecerem depois da primeira folheada no livro, inserindo algumas dimensões menos caóticas (mas não menos assustadoras) além dessas localidades tenebrosas.
Em termos de regras, considere que ele provoca uma perda de sanidade de 1D4/2D8, concede +10% em Mitos de Cthulhu e é necessário uma média de 20 semanas para ser estudado e compreendido. Além dos portais, ele possui também os seguintes feitiços: Alma Viajante, Banimento de Yde Etad, Buscar Portal, Criar Janela, Criar Portal, Jornada ao Outro Lado e Ver Portal.
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Robertson “Mantsor” Schitcoski
Robertson “Mantsor” é engenheiro de computação e mora em Brasília. Ingressou no mundo do RPG mestrando todo tipo de cenário em GURPS, que é o seu sistema de estimação. Hoje prefere Chamado de Cthulhu, que já lhe rendeu algumas das melhores experiências com o hobbie.