UniversoRPG

Baú do Mestre | Dicas

Monstros de Stephen King para a sua campanha de RPG

Dicas de como usar as criaturas dos livros de Stephen King em suas sessões de RPG e surpreender seus jogadores.


Por: Ghost | 13/03/2020

publicidade
Superando o Bloqueio Criativo no RPG

Salve, salve, aventureiros!!

Depois de um longo hiato retorno a vós com mais uma de nossas listas. Algo simples e bem conceitual. Ideias para usar na sua campanha (seja em que sistema for, moderno, medieval ou futurista), dando aquele up diferentão, bem fora do padrão que costumamos ver em bestiários por aí.

Stephen King é um autor sobre o qual ainda vamos falar mais aqui no UniversoRPG. Se é o melhor autor de horror/terror dos tempos modernos, é discutível, mas sem dúvida é o mais popular/vendido, além de ser confessamente influenciado por H.P. Lovecraft (acho que já mencionamos por aqui o quanto a nossa equipe é fã de Lovecraft, né?).

Então, sem mais delongas, vamos à lista:


ALERTA DE SPOILERS!!!

A lista abaixo apresenta spoilers de livros/contos de Stephen King e suas respectivas adaptações para cinema e TV. Ao lado de cada título mantemos o título do livro/filme/série, tanto original como a tradução (ou mais de uma, quando houver várias). Assim o leitor pode pular o paragrafo – ou o artigo todo – se for o caso.


1. Pennywise (Parcimonioso) (“A Coisa”/”It”)

It: A Coisa

Versão original do filme de 1990. | Fonte: Divulgação.

O nosso palhaço assassino preferido de todos os tempos, antagonista de “It” (traduzido no Brasil como “A Coisa”, nos livros, ou apenas “It”, mesmo, nos filmes), Pennywise é uma presença medonha.

Oculto no subsolo de Derry (mais sobre a cidade adiante… vocês não perdem por esperar) desde antes de sua fundação, Pennywise é um dos motivos dessa localidade ser frequentemente descrita como maligna em si.

Seu nome verdadeiro é desconhecido, bem como sua forma (a forma de aranha gigante descrita no livro é apenas uma delas, não havendo garantias de ser a original). A Coisa (manteremos aqui a tradução original) tem bilhões de anos de idade, e a data de chegada à Terra não é conhecida (alguém notou a nada sutil influência de Lovecraft aqui?).

A Coisa se alimenta de humanos. Simples assim. A cada 27 anos ela acorda e permanece ativa por algum tempo (vários meses ou poucos anos) enquanto consegue vítimas. Quando se alimenta de um número suficiente de humanos, volta a hibernar (mas mesmo assim segue influenciando a cidade e as pessoas nela – qualquer semelhança com Cthulhu não é mera coincidência).

Ao longo dos anos no subsolo de Derry uma série de eventos macabros ocorreu devido à sua influência, entre eles:

  • 1743 – O desaparecimento de mais de 300 colonos, quando Derry era pouco mais que um entreposto.
  • 1851 – John Markson envenena toda a sua família e comete suicídio comendo um tipo específico de cogumelo, que causa intensa dor durante o envenenamento.
  • 1904 – Claude Heroux assassina mais de uma dúzia de homens em um bar, utilizando um machado.
  • 1929 – O linchamento da gangue de Bradley. A cidade toda (incluindo o chefe de polícia) simplesmente finge que nada aconteceu.
  • 1984 – O assassinato de Adrian Mellon e Don Hagarty (um casal homosexual).

Como utilizar na campanha

A Coisa pode ser o antagonista da campanha, ou ser apenas um empecilho “menor”. Sua habilidade de aparecer em qualquer forma pode ser muito bem aproveitada por um mestre habilidoso. No livro (e nas adaptações) a principal utilização desta habilidade é aparecer como uma pessoa amada de um dos personagens (para manipulá-lo facilmente), ou como o objeto de seu maior medo. Talvez ela goste do sabor do medo em suas vítimas. Nunca teremos certeza.

A Coisa pode estar presente em qualquer época ou cenário. Ela pode estar adormecida na vila medieval onde os personagens começam sua carreiras, podendo gerar até mesmo uma mini-campanha antes que eles comecem a se aventurar em lugares mais distantes. Em uma pequena cidade nos tempos modernos ou em uma colônia humana (ou alienígena) em outro planeta no caso de uma campanha futurista/espacial.

De qualquer modo é importante manter um clima no qual as pessoas em geral não acreditem (de preferência nem tenham como acreditar) na criatura, já que ela costuma fazer com que a morte de suas vítimas pareça algo “natural”. Apenas os personagens dos jogadores conseguem perceber a ameaça.

O local onde A Coisa se encontra é sempre, de alguma forma, mais violento que outras cidades do mesmo tipo. Caso alguém tente traduzir essa violência em números, não será capaz de demonstrar a diferença estatisticamente, mas a violência estará lá, na forma de casos particularmente brutais, irracionais ou misteriosos (como o desaparecimento de toda uma colônia). Não economize nas descrições de cenas macabras e/ou absurdas.

2. Kurt Barlow (“Salem’s Lot”, “Jerusalem’s Lot”)

Os vampiros, às vezes, podem não ser figuras sedutoras. | Fonte: Pinterest.

Aqui temos a história clássica do vampiro. Kurt Barlow é um vampiro clássico. Ele não brilha à luz do sol (e muito menos no escuro), embora não seja exatamente sedutor.

No conto Jerusalem’s Lot, Kurt Barlow abre uma loja na cidade homônima, e seus habitantes são aterrorizados (e devorados) por ele e seus lacaios.

Como utilizar na campanha

Não tem muito segredo aqui. Uma ideia razoavelmente original seria utilizar o Vampiro em aventuras medievais com uma pegada mais moderna (ou seja, com ele se disfarçando entre os habitantes locais, podendo mesmo manter uma aura de respeito entre os nativos).

E um vampiro em uma aventura futurista (uma colônia espacial? uma base estelar?) seria um antagonista para lá de original, convenhamos.

3. Gage Creed (“Pet Sematary”, “Cemitério Maldito”)

Chucky que se cuide! | Fonte: Reprodução.

Aqui pegamos pesado. Gage Creed é a criança atropelada e morta por um caminhão em O Cemitério Maldito. Em um ato de desespero seu pai o enterra no cemitério de animais (ou melhor, “simitério” de animais, para nos mantermos fiéis à tradução original). Obviamente, o que retorna não é exatamente seu filho.

Como utilizar na campanha

Aqui cabe um aviso bem sério: é um conceito que eu tomaria muito, mas MUITO cuidado antes de usar. Só colocaria em uma mesa na qual eu conhecesse muito bem as pessoas, e mesmo assim com sérias ressalvas.

O pai desesperado que enterra seu filho pequeno, recém morto de forma trágica, em um solo maldito para que ele retorne à vida, mas a criança retorna corrompida por um espírito maligno. No livro/filme temos um bom desenrolar no mundo moderno, mas como seria em uma ambientação medieval? Quais seriam as consequências de tal “bruxaria”? Em uma ambientação medieval “realista”, poderíamos ter algumas boas condenações à fogueira após tudo ser “resolvido”.

Novamente, a ideia pode ser utilizada em uma ambientação futurista, tendo nuances bem interessantes. Em uma colônia espacial em um planeta distante as pessoas poderiam ter dificuldade em acreditar em uma espécie de “zumbi”, e o ceticismo exagerado daria espaço para que muitas tragédias acontecessem antes de algo ser feito. Ou ainda, a descoberta de um local onde as pessoas “voltam dos mortos” poderia ser o ponto de partida de uma aventura ou campanha, com os jogadores descobrindo no final que a tal “terra prometida” virou um planeta de zumbis ou monstros.

4. Randall Flagg (“A Dança da Morte”/”The Stand”, “A Torre Negra”/”The Dark Tower”, “Olhos do Dragão”/”Eyes of the Dragon”, e outros…)

Randall Flagg - A Dança da Morte

O homem que parece mais um presença do que outra coisa. | Fonte: Pinterest.

Não poderia faltar na lista o vilão quintessencial de Stephen King. Antagonista máximo em A Dança da Morte (“The Stand”, no original, que segundo boatos está prestes a ganhar nova adaptação para a TV), Randall Flagg (também conhecido como “O Homem Escuro”, “Walter o’Dim”, “Marten Broadcloak” e “Walter Padick”, entre outros…) é descrito como um feiticeiro dedicado e um devoto da escuridão. Randall Flagg é mais um personagem com clara influência de Lovecraft, guardando muitas semelhanças com Nyarlathotep (inclusive a coisa é tão aberta que em “A Dança da Morte” ele é chamado de Nyarlathotep em algum momento).

Na adaptação para o cinema de A Torre Negra, Randall Flagg aparece como o antagonista, o Homem de Preto (Darkman, no original). Quem dá vida ao personagem é o ator Matthew McConaughey, de Interstellar.

Como utilizar na Campanha

Flagg seria o derradeiro antagonista. A presença maligna que ronda os personagens dos jogadores desde o início (mesmo que eles ainda nem tenham se dado conta disto), manipulando tudo para atingir seu objetivo.

Na verdade, cronologicamente falando, a primeira aparição do personagem foi na era medieval, no livro Olhos de Dragão. Ao longo da história da humanidade ele continua aparecendo em momentos-chave, tendo desempenhado papéis na Guerra do Vietnã, na formação da Ku-Klux-Klan e outros momentos importantes.

Em A Dança da Morte, após um apocalipse causado por um vírus que mata 99% da população da Terra, Flagg se entrincheira em Las Vegas, e envia um sinal psíquico para os sobreviventes. A parte interessante é que não são apenas as pessoas más que são atraídas por esse chamado. Nas palavras da personagem Abigail Freemantle, são também “os fracos, os solitários, aqueles que deixaram Deus do lado de fora de seus corações”. Isso dá bastante pano para a manga.

Em um cenário medieval Flagg poderia arrebanhar milhares de seguidores, mas que estariam com ele em parte por medo, e em parte por terem sido acolhidos apenas naquele ambiente. Nesse livro a forma de Flagg é descrita como a de um homem alto, usando calças jeans, camiseta e jaqueta jeans. Na jaqueta ele ostenta um button com a face de um porco vestido de policial e a frase “Já matou seu porco hoje?”. Suas botas repicam no asfalto quando ele anda.

Já em um cenário futurista Randall Flagg estaria presente nas colônias espaciais, por trás de grandes corporações e/ou desastres ambientais. Ou talvez apenas esperando um novo cenário apocalíptico para tentar arrebanhar seguidores e conseguir mais poder.

5. Derry

Derry, a cidade que virou personagem nos livros. | Fonte: Pinterest.

E aqui temos algo um pouco diferente. Apesar de em A Coisa ficar estabelecido que as coisas ruins que acontecem em Derry são, basicamente, devido à presença de Pennywise, em muitos outros contos de Stephen King é estabelecido que a cidade é, em si, maligna. A cidade (e cenário) é mencionada em pelo menos, uma dúzia de outros livros do autor.

Como utilizar na campanha

É um conceito bem original: ao invés de um antagonista, a própria cidade/vilarejo dos personagens dos jogadores é maligna, com sua existência influenciando mentes fracas que ali vivem, fazendo com que cometam atrocidades por motivo nenhum.

As manifestações viriam em diversas formas, como crimes brutais, linchamentos terríveis, desaparecimentos sem nenhum rastro… tudo rodeado por uma aura de mistério e/ou apatia. Essa última principalmente por parte de autoridades que tenderiam a assumir uma postura de “as coisa são assim mesmo por aqui”.

A cidade pode ser o local de origem dos jogadores. Talvez eles tenham dificuldade em sair de lá, como por exemplo, uma manifestação da consciência da cidade, influenciando o ambiente de modo que aconteçam coisas que os segurem. Pode ser um parente doente, um assunto qualquer a ser resolvido. Seja qual for o motivo, eles não conseguem sair da cidade, sempre haverá algo os puxando de volta. Esse mecanismo funcionaria muito bem em aventuras one-shot.

Outra possibilidade é que os personagens não sejam originários de lá, mas precisem passar por ali com frequência (talvez suas viagens “coincidentemente” sempre passem por ali).

Aliás, um lugar assim seria perfeito para alguns easter eggs interessante. Que tal quando seus jogadores passarem por lá, algum deles veja de relance, em um porão ou bueiro, um palhaço cujos olhos parecem moedas de prata? Fica aí a ideia.

E por hoje é só, aventureiros!

Sugiram lá na nossa página do Facebook, quais monstros ou vilões de Stephen King vocês acham que faltaram nessa lista?

Henrik “Ghost” Chaves

Henrik “Ghost” Chaves é fã de D&D (mas acha que a edição 3.5 foi a melhor de todas) e de tudo relacionado aos Mitos de Cthulhu. Música (rock), literatura (fantástica), cinema (pipoca) e boardgames (modernos) estão entre seus outros hobbies.