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Baú do Mestre | Dicas

Mestrando de improviso ou a Arte de Improvisar

Como improvisar de maneira eficiente em suas partidas de RPG e sem passar sufoco!


Por: Zamboman | 11/03/2019

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Compêndio de Aventuras Vol I

Cedo ou tarde, todo grupo de RPG acaba passando por essa situação, o mestre avisa em cima da hora que não vai poder comparecer e cabe a um dos jogadores mestrar alguma coisa… de improviso.

Outra situação é quando você combina a sessão com antecedência, mas não consegue preparar nada a tempo e, por isso, acaba cancelando ou adiando o jogo da galera.

Para alguns isso pode parecer muita loucura ou até mesmo uma certa negligência com os jogadores, mas saiba que o improviso faz parte da arte de contar uma boa história. E a boa notícia é que existem algumas formas e técnicas para você poder improvisar sem ter medo de errar.

Esteja sempre preparado

Aventura pronta de Call of Cthulhu que recebemos da Chaosium para usar em eventos. | Fonte: Reprodução.

Minha primeira dica é tenha sempre à mão uma aventura pronta. Sim, uma aventura pronta. Ela não precisa ser do mesmo tema que seu grupo está acostumado a jogar nem do mesmo sistema. Existem boas aventuras prontas no estilo “One Shot”, as famosas aventuras de uma tarde. Essas aventuras geralmente tem início, meio e fim bem definidos, já trazem estatísticas de NPCs, locais e monstros.

Porém, para um uso eficiente desse modelo de aventura, você precisa necessariamente conhecer ela antes. Saber sobre o que se trata a aventura, para quantos personagens são, qual o nível de desafio oferecido e outros detalhes mais. Logo, não adianta você baixar uma aventura dessas momentos antes da sessão começar e querer mestrar esperando que tudo saia como planejado.

Por isso, tenha sempre à mão uma aventura pronta que você já leu e releu várias e várias vezes, algo que você possa conduzir de forma fácil por saber de todos os detalhes. Isso é quase como mestrar de improviso.

Eu tenho uma aventura que criei, muito tempo atrás, mas que sempre mestro em eventos ou para um grupo que está começando no RPG. Como já mestrei ela várias e várias vezes, ficou fácil conduzir uma sessão de jogo, mesmo não tendo acesso as minhas anotações originais. Contudo, sempre que possível, volto a reler a aventura e as anotações para ter certeza de que não esqueci nenhum detalhe.

Você pode encontrar várias aventuras prontas pesquisando na web. O site Dungeonist possui um bom número de aventuras, algumas pagas, outras free. No portal da Rede RPG você também encontra um bom material oficial de D&D traduzido pela equipe. E se você é assinante da Dragão Brasil, todo mês eles trazem pequenas aventuras prontas para serem utilizadas. Não esqueça também que muitos livros básicos de RPG contém uma aventura introdutória para o sistema, como a clássica aventura “A Assombração”, que acompanha o Chamado de Cthulhu.

Tenha ideias prontas

Tome Nota

Assim que suas ideias surgirem, tome nota! | Fonte: Pexels

Essa é minha segunda dica. Tenha sempre à mão um local para anotar suas ideias de aventuras. Como elas podem surgir a qualquer momento, eu costumo usar o Google Keep para fazer anotações rápidas, pois posso acessar ele do celular ou do desktop, já que ele sincroniza as anotações na nuvem. Outra vantagem é que você pode fazer anotações em áudio e ele transcreve para texto. Não fica 100% fiel, mas ajuda muito. Depois é só sentar e revisar o que você “anotou”.

Porém, você pode usar qualquer aplicativo ou site que tiver mais afinidade, vale até o bloco de notas.

E se você não é muito adepto da tecnologia e gosta de coisas mais analógicas, que te tal usar um caderno ou bloco de anotações?  Existem aqueles moleskines estilosos que você pode facilmente carregar no bolso e sacar sempre que for anotar alguma coisa.

O importante aqui é não deixar de registrar suas ideias, mesmo que elas não tenham conexão direta com as anotações anteriores ou com o sistema/tema/campanha que você está jogando atualmente.

Eu costumo anotar tudo na forma de tópicos, com referências às aventuras que estou participando ou a livros, filmes e seriados que esteja vendo no momento.

Aqui vão alguns exemplos de anotações que fiz para uma das aventuras que mestrei e para a qual ainda estou criando conteúdo:

  • Criar item mágico que se teletransporta para outro usuário sempre que o acerto é uma falha crítica;
  • Procurar imagens de um cubo, ao estilo Tesseract, para mostrar aos jogadores;
  • Anões construíram uma passagem segura até o topo da montanha mais alta do reino. Essa construção levou décadas. Por isso, o número de famílias anãs na cidade (criar um nome para cidade) é muito grande;
  • A rainha foi enfeitiçada ao fazer uma viagem ao reino vizinho;
  • A rainha foi infectada ao fazer uma viagem ao exterior (determinar para onde ela foi).
  • O elfo que os jogadores confiam na verdade é um doppelganger.

Criar essas listas de tópicos ajuda a manter as ideias em dia, além de ser uma ótima fonte de inspiração quando meus jogadores tomam atitudes inesperadas e preciso improvisar em suas consequências.

Se fizer esse exercício com regularidade, com o passar do tempo você verá que tem elementos suficientes para montar uma aventura inteira de forma quase instantânea.

Tenha sempre à mão listas prontas

DnD Homebrews

Homebrews de D&D são uma ótima fonte de inspiração. | Fonte: DnD 5e Homebrew

Todo tipo de lista vale. Lista de monstros, lista de NPCs prontos, lista de nomes, lista de locais, lista de datas festivas e por aí vai. Você não precisa se esforçar tanto, existem várias dessas coisas prontas por aí, basta uma pesquisa rápida no Google e você vai achar várias delas. Uma boa referência para joga D&D são os Homebrew disponíveis no Pinterest. Existem muita coisa boa criada por fãs.

Uma lista de nomes sempre ajuda também. Tenho dúzia delas, uma para cada tipo de jogo. Todo jogador tem a mania de perguntar o nome daquele NPC que não tem importância alguma para a trama (eu me incluo nessa categoria), mas esquece o nome do vilão principal.

A lista ajuda você a dar a devida importância aos seus NPCs e deixar os jogadores mais atentos aos detalhes. Quando você utilizar o mesmo NPC em outra situação, se ele tinha um nome próprio, ao invés da “moça da taverna que pediu ajuda”, sua aventura vai ficar muito mais rica e verossímil.

E quando eu falo de listas, quero dizer também dados estatísticos de alguma coisa. A ficha do guarda do acampamento, dados da arma ultra tecnológica que os jogadores encontraram, a força necessária para derrubar uma porta e por aí vai. Quanto mais você conhecer os seus jogadores, mas fácil vai ser criar esse catálogo com coisas relevantes para o seu jogo. Afinal, você verá que varias coisas se repetem ao longo das sessões de jogo.

Busque inspiração sempre que possível

Busque Inspiração para seu RPG

Busque inspiração em outras mídias além do RPG. | Fonte: Seven: The Days Long Gone.

Durante um bom tempo em que passei jogando RPG como jogador, tive alguns episódios do chamado bloqueio criativo. Queria muito mestrar, mas nenhuma ideia boa me vinha à cabeça. Se vinha, não conseguia dar sequência e criar algo legal. Acredito que todo mundo acaba passando por isso, vez ou outra.

O que me ajudou muito foi mudar o meu foco e buscar outra coisa pra fazer. Parei de pensar naquilo e voltei a ler. A literatura sempre acabava me inspirando de alguma forma, seja pela história em si, um personagem, um vilão, um plot twist. Depois, eu acabava “roubando” alguns elementos e incorporando nos meus jogos.

Lembro quando estava lendo O Nome do Vento, de Patrick Rothfuss, minha cabeça não parava de me presentear com ideias sobre como inserir aquele modelo de magia apresentado no livro.

Nem sempre as ideias eram realmente boas, mas não importava, eu anotava tudo e de tempos em tempos, revisitava essas anotações. De uma dessas listas, saiu quase uma campanha inteira.

Recentemente tenho lido os quadrinhos de Hora de Aventura para poder usar em conjunto com o RPG publicado pela Retropunk. O que era pra ser uma simples fonte de consulta e inspiração para montar um personagem, acabou virando um caldeirão de ideias para usar em outros RPGs (meus jogadores não perdem por esperar).

Enfim, o que quero dizer é: busque inspiração em outras mídias que não sejam só RPG. HQs, livros, seriados, tudo pode ser aproveitado e adaptado. Não tenha medo de copiar alguma coisa ou ideia que você achou legal. Ter essa ideia ou conceito, junto com toda a informação que você já possui, te torna mais qualificado para improvisar quando for preciso.

Tudo junto e misturado

Dead Space 2

Dead Space serviu de inspiração inicial para minha aventura espacial. | Fonte: Pinterest

Por último, mas não menos importante, quando você achar que já tem informações suficientes, tente dar sentido a elas criando um linha narrativa, como se fosse uma história completa mesmo. Você vai ver que interligar tudo e preencher as lacunas daquela sua ideia principal vai ficar bem mais fácil. Foi assim que eu montei minha aventura padrão que utilizo em eventos e afins.

O plot principal dessa aventura é: Um grupo de mercenários, em busca de seu último grande trabalho, aceita ir buscar um artefato que está localizado numa nave à deriva no espaço.

Nessa aventura os jogadores sempre passam por algumas cenas que já considero clássicas:

  • Teste de pilotagem e perseguição;
  • Briga de bar;
  • Busca por informações extras da missão com a opção de serem abordados por algum concorrente direto;
  • Encontro com o sobrenatural;
  • Encontram uma arma de tecnologia desconhecida, mas que causa um grande estrago e tem um efeito colateral.

Mesmo essa fórmula tem variantes, como por exemplo, a aventura pode se passar totalmente na Terra, sem a necessidade dos jogadores irem ao espaço ou o encontro com o sobrenatural às vezes não ocorre. Porém, isso só foi possível por ter feito minha lição de casa e ter vários itens e situações anotados. E de tanto ler essas anotações, consigo mestrar e improvisar tudo de olho fechado.

Espero que essas dicas ajudem você a mestrar com um pouco mais de preparo, quando o mestre faltar a próxima sessão e você for o escolhido para improvisar algo.

Até a próxima!

Marcelo JK “Zamboman”

Jogador e Mestre de RPG desde a época em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Fã de ficção científica, mestre de Star Wars Saga e mestre em tirar aventuras improvisadas da cartola.