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Baú do Mestre | Dicas

Em busca do sistema de RPG perfeito

Saiba como escolher o sistema de RPG mais adequado para sua sua mesa, campanha ou jogadores.


Por: Zamboman | 08/08/2018

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Return of The Lazy Dungeon Master

Recentemente estava em busca de um sistema de RPG para uma adaptação de Dead Space. Meu primeiro impulso foi fazer uma adaptação para D20 por algumas questões práticas:

  • Poderia usar o sistema de Star Wars Saga Edition, que além de ser D20 também já teria suporte a vários “itens” futuristas.
  • Querendo ou não, D&D é o sistema mais jogado atualmente e com a licença aberta da 5ª edição, seria uma escolha sensata adaptar para esse sistema.
  • A Paizo lançou recentemente o Starfinder, que seria também uma adaptação futurista de um sistema baseado em D20, sustentando minhas argumentações.
  • Por uma questão pessoal e “preguiça” de aprender todo um sistema novo.

O caminho parecia meio óbvio, mas mesmo assim resolvi colocar minha ideia à prova. Coloquei essa pergunta em um grupo de whatsapp que participo: “Estou querendo adaptar Dead Space para RPG. Qual (ou quais) sistemas vocês indicariam?

Para minha surpresa, o único sistema que ninguém queria usar era justamente do D20. As justificativas foram várias e logo se iniciou uma discussão acalorada sobre qual sistema é melhor para fazer adaptações.

Um sistema para a todos dominar

Um sistema para a todos dominar

Desculpem pelo trocadilho, mas entendedores entenderão. | Fonte: Divulgação.

Entre os sistemas mais sugeridos estavam o Cypher System do Monte Cook, presente em Numenera e The Strange; ambos lançados aqui no Brasil via financiamento coletivo pela editora New Order. O FATE apareceu em segundo lugar na opinião da maioria, como um sistema simples e flexível capaz de comportar todos os elementos necessários do jogo. E por último, mas não menos importante, o Savage Worlds, publicado aqui noBrasil pela Retropunk.

Porém, quando comentei que pretendia usar o D20, usando as justificativas que mencionei antes, alguns participantes do grupo quase entraram em frenesi, dizendo que é um sistema engessado e que serve apenas para a fantasia medieval.

Quanto a ser engessado, pode até ser que algumas regras não permitam a fluidez que muitos gostariam, mas discordo plenamente quando dizem que D20 é apenas para fantasia medieval. Pra mim, D&D é fantasia medieval, o sistema usado não.

As pessoas costumam colocar sistema, tema e cenário num lugar comum e com isso em mente, passam a dizer que qualquer coisa que use o D20 como base é uma adaptação para D&D. Nós mesmos aqui no UniversoRPG utilizamos esse artifício, mas a verdade é que a adaptação não é para D&D e sim utilizando o sistema de D&D.

Com o surgimento das licenças abertas, as tais OGLs da Wizards, vários RPG viam a luz do dia. Não vou citar todos, mas alguns jogos como Mutantes & Malfeitores e Reinos de Ferro, só existiram por conta do sistema D20. Sugiro a leitura de um post publicado pelo pessoal do Mundos Colidem, que fala exatamente sobre essa questão de uso (ou não) do sistema de licenças do D20.

Prós e Contras de um sistema

Busque o sistema que tem o cenário mais adequado.

Busque o sistema que tem o cenário/tema mais adequado. | Fonte: Reprodução.

Voltando a discussão do grupo de whats, algumas pessoas começaram a colocar os prós e contras de usar um sistema ou outro. Entre eles, um que me chamou bastante a atenção foi quando mencionaram o problema de que, em D&D, o foco seria a evolução dos níveis dos personagens. Que em níveis mais altos, por exemplo, pontos de vida, categorias de dificuldade e outros desafios acabam se tornando irrisórios frente a um personagem de níveis e atributos quase épicos. Além disso, a letalidade do combate visto em Dead Space ficaria seriamente comprometida.

Pois bem, quanto a letalidade do jogo, creio que você poderia controlar isso escolhendo melhor o nível das criaturas que o protagonista enfrenta, certo!? Lembre-se: se o seu personagem evoluiu, seus inimigos também deveriam evoluir.

Outro ponto que poderia ser explorado é a administração de recursos dos jogadores. Munição, kits médicos, peças e equipamentos poderiam ser gastos com inimigos menores à medida que avançam rumo ao desafio final. Ao confrontar um inimigo mais poderoso, os jogadores não estariam com 100% de sua capacidade operacional e isso poderia, sim, representar a letalidade do jogo.

Um outro exemplo que poderia simular a letalidade desejada no sistema Saga Edition de Star Wars: você tem uma mecânica que se chama Limite de Dano (Damage Threshold no original em inglês). Quando o personagem recebe, em uma única jogada de ataque, um dano maior que o Limite de Dano suportado, ele ganha uma Condição (Condition). A condição impõe redutores em todas as jogadas, sejam ataques ou testes de perícia.

E ainda fazendo uma analogia com o avanço de nível do personagem, no jogo você começa com uma armadura muito ruim, pouca munição e suas armas não causam tanto dano. Porém, no decorrer do jogo, assim como em muitos jogos de videogame, você tem a possibilidade de fazer upgrades no seu equipamento. Por mais que o personagem não “suba de nível”, seus equipamentos e aprimoramentos refletem isso. Logo, quando ele se depara com inimigos do início do game, eles são facilmente vencidos, mas não sem um custo do seu inventário.

E onde eu quero chegar com tudo isso? Vejam, não é o sistema que está ditando absolutamente tudo, mas sim o uso que você faz dele e a ambientação que você escolheu.

Não existe sistema perfeito

A dúvida sempre existirá.

A dúvida sempre existirá. | Fonte: HD Wallpaper Collection

Quanto antes você aceitar isso melhor. Não existe sistema perfeito. Todo sistema tem seus pontos fortes e fracos. Acho que antes de sair adaptando tudo para um sistema só, você precisa fazer algumas perguntas antes.

Minha adaptação precisa ser mais imersiva e focar mais na narrativa do que no combate? Meus jogadores estão dispostos a aprender outro sistema? O sistema possui todas as mecânicas para simular minha adaptação ou vou precisar criar algo novo? Preciso de um sistema que seja mais simples e rápido de ser usado em jogo? E por aí vai…

Depois de responder essas e outras perguntas, TALVEZ o D20 não seja minha primeira opção. E de novo, o fato de usar um sistema baseado em D20 não significa que essa é uma adaptação da D&D, afinal de contas cenário e sistema são coisas diferentes.

Para finalizar, fiquem com esse fan-made que mostra um pouquinho da atmosfera do Dead Space.

Marcelo JK “Zamboman”

Jogador e Mestre de RPG desde a época em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Fã de ficção científica, mestre de Star Wars Saga e mestre em tirar aventuras improvisadas da cartola.