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Diferenças entre raças e classes no seu RPG de mesa

Dicas sobre raças e classes de RPG para você que está começando a jogar ou mestrar.


Por: Zamboman | 08/11/2018

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Mestre RPG

Se você já joga RPG a algum tempo, seja como mestre ou como jogador, já sabe a diferença entre uma raça e uma classe de personagem. Porém, para quem está começando agora, talvez a diferença não seja tão óbvia quanto parece e explicar ela pode ser mais difícil do que parece.

Essa “dúvida” apareceu recentemente em uma das nossas mesas. No dia a gente estava se preparando para jogar uma aventura clássica de D&D com quatro jogadores, sendo que um deles era novato. O diálogo que aconteceu nesse dia foi mais ou menos assim:

Mestre: “Todos vocês já sabem com o que querem jogar? Qual raça e classe de personagem vocês vão escolher?”.

Jogador 1: “Eu já, vou de Tiefling Mago. Minha ficha inclusive está pronta se quiser dar uma olhada”.

Jogador 2: “Eu vou jogar de Tiefling também, mas serei um Paladino. Ainda preciso montar minha ficha, mas eu me viro bem sem o livro”.

Jogador 3: “Quero ser uma Druida e elfa. Eu preciso de ajuda para montar o meu personagem porque eu não lembro quase nada regras, mas o conceito geral eu já tenho em mente”.

Jogador 4: “Beleza, por onde eu começo mesmo? Não entendi nada do que vocês falaram até agora…. kkkkk”.

Mestre: “Primeiro você precisa escolher sua raça e depois a sua classe de personagem. A raça é basicamente aquilo que define você como um ser biológico, assim como a gente, sabe? Humanos são uma raça no RPG”.

Jogador 4: “Raça pra mim é de gato, cachorro… cavalo. Agora raça de ser humano pra mim é novidade”.

Jogador 3: “É mais ou menos isso, até poderíamos colocar tipos de raças humanas, mas pegando o seu exemplo, é com se a gente fosse jogar com uma raça de gato, ou uma raça de cachorro ou ainda uma raça de humano. Entende onde quero chegar?”.

Mestre: “Mas por enquanto, saiba que você precisa escolher uma determinada raça dessa lista aqui (o mestre mostra o índice do livro)”.

Jogador 4: “E qual é a melhor?”.

Mestre: “(olhando para os jogadores veteranos)… por favor me ajudem!”.

Diferenças existem

Diferenças entre classes e raças

As diferenças sempre estarão presentes na sua mesa. | Fonte: Artstation

Como vocês puderam perceber, essa questão de raça para jogadores novatos não é tão óbvia quanto parece. A dificuldade é natural pois apesar da pessoa conhecer o conceito de raça (cães e gatos), o contexto onde ela estava sendo usada era totalmente novo.

Acabamos gerando mais confusão quando tentamos fazer esse paralelo com o nosso mundo animal, pois apesar de existirem diversas raças de cachorro, um cachorro continua sendo um cachorro em qualquer lugar do mundo, ou seja, não existe a diferença. Se eu tivesse que fazer a mesma explicação hoje, usaria uma abordagem diferente, a abordagem Star Wars.

Por mais que nem todos gostem, é difícil encontrar um RPGista que não tenha visto algum filme/seriado do Star Wars ou que não conheça pelo menos os personagens principais (Luke, Leia, Han Solo, Chewbacca, R2D2 e C3-PO). Pois bem, minha explicação seria mais ou menos assim:

“Sabe o Star Wars? Tem vários alienígenas no filme, certo? Podemos dizer que cada um deles é uma raça diferente. Veja o Luke, Leia e Han Solo. Todos são humanos, já o Chewbacca é um Wookiee e os robôs são Droids. Cada um pertence a uma raça diferente. Agora, o que cada um faz é o que chamamos de Classe”.

“Han Solo e Chewbacca são de raças diferentes, mas fazem a mesma coisa. Ambos são contrabandistas (pelo menos no início da história), ou seja, ele possuem a mesma classe de personagem. Já o Luke tem 2 classes. Ele começou como piloto e depois aprende a ser um Jedi”.

Acredito que essa abordagem seja mais fácil de conduzir e explicar os conceitos de Raça e Classe de Personagem para os novatos no RPG.

O início da jornada

Início da Jornada

Todo início de jornada parece incerta e desafiadora. | Fonte: Artstation.

Voltando para a nossa mesa, os veteranos ajudaram a montar a ficha, tirando as dúvidas e explicando o que cada raça e cada classe fazia. O jogador ainda ficou um pouco inseguro, mas confiou nos veteranos e assim, seguimos em frente.

E aqui fica a nossa primeira dica: se você tem um jogador veterano na sua mesa, faça com que ele ajude os demais, principalmente os novatos. Como mestre você precisa gerenciar várias coisas na mesa, e sempre tem aquela anotação de última hora para fazer. Por isso, conte sempre com a ajuda dos seus jogadores veteranos e combine isso com eles antes das partidas. Com certeza os novatos vão se sentir mais seguros e acolhidos.

Como dica adicional, permita que o jogador troque de personagem ao final da primeira sessão. Deixe que ele experimente outras mecânicas de regras e rolagens de dados já na segunda sessão de jogo e depois decidam com qual personagem o jogador vai seguir em frente. Você vai notar que, depois de observar os outros jogadores na mesa, essas decisões vão ficando mais fáceis.

Voltando a nossa mesa, depois da escolha do personagem, o jogador novato começou a jogar e avançar na história. Tudo ia perfeitamente bem enquanto ele estava jogando sozinho. Porém, quando ele começou a interagir com os demais jogadores no meio da aventura, e cada um precisou usar suas habilidades de raça e classe, as coisas começaram a complicar novamente.

Jogador 4: “Por que eu não posso rolar esse dado aqui também, como ele (o jogador 2)?”.

Mestre: “Porque o seu personagem não tem essa habilidade, que é exclusiva de classe”.

Jogador 4: “Mas minha classe não é… Dragonborn também?”.

Mestre: “Não, sua classe é Clérigo. Dragonborn é a sua raça”.

Jogador 4: “Humm…”.

Esse último comentário me deixou preocupado. Parecia que o jogador não tinha ficado satisfeito com a explicação do Mestre. Saiba que essas confusões são completamente normais para quem está começando. São muitos termos novos e temos uma pequena curva de aprendizado à frente. Por isso, tenha paciência e sempre que surgir uma dúvida, explique. O novato errou e fez uma rolagem que não era permitida? Avalie no contexto geral se uma interrupção é realmente necessária. No nosso caso por exemplo, todos estavam se divertindo e por isso, o mestre deixou várias coisas passarem.

Pode ser até ser chato, ficar parando a aventura para explicar coisas “óbvias”, mas com certeza é muito mais chato ficar 2 ou 3 horas ali sentado sem entender o que está acontecendo, só rolando dados porque alguém pediu.

A falta de paciência e tato de alguns jogadores e mestres, para explicar o sistema e as regras para alguém novo no hobby, talvez seja um dos principais motivos pelo qual, alguns grupos, não aceitem jogadores novatos.

O Feedback final

Continuando a jornada

A jornada deve continuar, mas com todas as adversidades. | Fonte: Tumblr

Ao final da sessão fizemos uma rodada de feedback com todos os envolvidos. A ideia era, em primeira mão, saber o que todos acharam da sessão, mas ela também serviu para mostrar ao jogador novato que as coisas nem sempre são tão simples e fáceis de entender, mesmo para jogadores veteranos.

O feedback foi bastante positivo no final. O novo jogador percebeu que os veteranos também tem dúvidas quanto a história, regras e afins. O fato de jogarem a mais tempo não faz deles um “bicho-papão” nem um “sabe-tudo” do RPG.

Outro feedback legal, mas agora para o mestre, ocorreu no início da segunda sessão de jogo. Ele pediu que todos fizessem uma recapitulação da aventura anterior, que contassem com suas palavras tudo o que fizeram. E mais uma vez o jogador novato se surpreendeu ao ver que cada um lembrava apenas de uma parte específica da aventura, mas não dela como um todo. Isso ajudou os jogadores a criarem um elo entre eles, já que aquela era a versão que eles se lembravam da aventura. Já para o mestre, o exercício deu brecha para criar outros ganchos para as aventuras seguintes e uma ideia bem melhor de como os jogadores estavam entendendo o desenrolar da história.

Então se você está começando a mestrar ou a jogar RPG, tenha em mente que todo esse processo de aprendizado é normal. Errar é normal, todo mundo erra. Por isso, não se sinta frustrado. O que não pode acontecer na mesa é você deixar de se divertir por medo de estar jogando errado, algo que no RPG, não existe.

Abraços!

Leia mais sobre:

Marcelo JK “Zamboman”

Jogador e Mestre de RPG desde a época em que os dinossauros caminhavam pela Terra. Fã de ficção científica, mestre de Star Wars Saga e mestre em tirar aventuras improvisadas da cartola.