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Baú do Mestre | Cenários

Será que da pra jogar The Handmaid’s Tale?

Ver como cada jogador seria capaz de resolver o problema de uma sociedade inteira parece muito interessante!


Por: marina | 06/12/2018

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Mestre RPG

Vamos falar de The Handmaid’s Tale? Há poucos dias fizemos uma pergunta em nosso Instagram pra saber quais séries, vocês adaptariam para o RPG e nos surpreendeu (e a alguns seguidores também) quando essa série apareceu.

O Conto da Aia, como ficou conhecido por aqui, é um livro da escritora canadense Margaret Atwood publicado em 1985. Porém, a história ganhou destaque em2017 quando foi ao ar pelo serviço de streaming Hulu, tendo 10 episódios para a primeira temporada.

ATENÇÃO! O texto abaixo contém descrições detalhadas e SPOILERS! Veja a marcação “FIM DO SPOILER” para não sair daqui me odiando.

A série se passa num futuro (distópico) não muito distante do nosso, mas isso não fica tão evidente nos primeiros episódios da série. Apesar dos flashbacks dos personagens, fica difícil precisar quando tudo aquilo aconteceu. Porém com o avançar da série a timeline começa a ficar mais clara.

Depois de um atentado ao até então Presidente dos Estados Unidos, uma facção católica toma o poder do Estado e o transforma na República de Gilead. Seu governo é totalitário, opressor e baseado no antigo testamento. Pensa só, do dia pra noite você acorda, vai trabalhar e a sociedade simplesmente começa a te tratar diferente e é aberta uma caça às minorias, mulheres e crianças. Agora você é obrigado a viver numa sociedade retrógrada, punitiva e extremamente violenta, onde “traidores” morrem enforcados publicamente.

The Handmaid's Tale

Cada episódio é como um soco no estômago. | Fonte: Divulgação.

A motivação principal de The Handmaid’s Tale é: fertilidade. Na época da série, a maior parte das mulheres é infértil, causando diversos tipos de problemas desde ansiedade até roubo de bebês em hospitais. E as poucas mulheres férteis são forçadas à servidão sexual, gerando vidas para os casais que não podem ter filhos e repovoando a sociedade.

Essas escravas são chamadas de Aias. Elas são treinadas e posteriormente distribuídas nas casas dos comandantes da Gilead. Durante esse período de estadia são forçadas a cumprir um ritual sexual bizarro com o comandante e sua mulher. A Aia serve como uma conexão entre o casal, que não pode mais ceder à luxúria, além de claro, cumprir algumas tarefas dentro de casa como ir às compras, ajudar a manter a casa em ordem e, é claro, ser uma boa Aia.

Não se engane que o cenário acaba por aí… seu ciclo é altamente controlado pela Gilead e quando uma Aia fica grávida de um comandante sua vida finalmente muda. Todos são quase como seus servos e finalmente é bem tratada. Até o dia do parto, claro! Quando muitas vezes as esposas decidem que não querem mais a Aia em casa e o seu bebê nem mesmo lhe é apresentado. A família fica com ele. Isso causa uma revolta que ninguém imaginava, a raiva e a vontade de ser mãe, de gerar um bebê que no final não é seu, imagina o que isso pode causar?! Existem casos onde uma Aia passa dia e noite acorrentada apenas produzindo leite. E o que você faria nessa situação?

Promo The Handmaid's Tale

Uma sociedade onde o mulher não tem voz, você já viu isso antes, não é? | Fonte: Divulgação.

Existe ainda um outro “status” é quando você é expulsa dessa sociedade. Quando isso ocorre, as pessoas tem apenas algumas alternativas:

  • Ser levada a uma casa clandestina, mais conhecida atualmente como puteiro e ter o seu “ganha-pão” por lá;
  • Ser forçada a fazer trabalho escravo físico em uma fazenda, sem as mínimas condições sanitárias e morrer lentamente por lá mesmo;
  • Morrer tentando fugir de Gilead, o que parece a uma boa opção, frente às demais.

Ah, mas é claro que antes de partir para uma dessas opções, você antes foi duramente torturada para aprender uma lição.

— FIM DO SPOILER —

Ao longo da série você vai conhecendo o contexto de cada Aia, de cada casa e como essa sociedade funciona, cresce, educa e influencia crianças e adultos. A semelhança ao nosso mundo é assustadora, revoltante e sim, parece algo que aconteceria facilmente.

Jogar no mundo de The Handmaid’s Tale certamente seria muito interessante. Ver como cada pessoa lida com preconceito, escravidão e humilhação e como cada jogador seria capaz de resolver o problema de uma sociedade inteira através de empatia e muita energia parece, no mínimo, muito curioso. Essa série com certeza vai mexer com você. Se você ainda não assistiu já compre um pacotinho de lenços pra ver a segunda temporada. 🙂

Jogando Handmaid’s 

Imagine uma sociedade que voltou no tempo, onde não se usam mais celulares, computadores ou televisões. Até mesmo a locomoção de carro fica restrita apenas a pequenos grupos, até mesmo entre os comandantes. Alguns serviços voltaram a ser feitos de forma manual e vários setores passaram a ser comandados, ou melhor, dominados por um grupo pequeno de pessoas.

Para todos os efeitos, o mundo de The Handmaid’s é um futuro distópico, assim como o mundo imaginado por George Orwell em seu clássico livro 1984, porém muito pior ao meu ver.

Sua liberdade foi tomada

Sua liberdade foi tomada e agora você é refém do sistema. | Fonte: Divulgação.

As mulheres não podem mais ler, escrever e estão à serviço de seus maridos. Devem manter o lar, cuidar das crianças e ser uma boa mãe. Quem você era antes do atentado não importa mais. Esqueça desse passado. Na série o passado das personagens é vista através de flashbacks e o mestre pode usar esse mesmo recurso para contar histórias paralelas a trama principal, a fim de criar o background dos personagens em conjunto com os jogadores.

O clima de vigilância está sempre presente. Seguranças estão sempre a espreita nas cidades, ouvindo conversas e garantindo a paz.

Aias só podem andar em par e não podem falar nada além de cumprimentos religiosos e do tempo. Qualquer tipo de conversa paralela, se vista ou observada por outra pessoa, além de repreendida, pode trazer sérias consequências e até mesmo tortura.

Personagens jogadores

Além das Aias, existem outos arquétipos de personagens, vistos na série e que podem ser explorados em jogo.

Aia

As Aias

Aias só podem andar acompanhadas. | Fonte: Divulgação.

Com certeza o personagem mais impactante e desafiador de jogar. Usam vermelho, simbolicamente representando sua fertilidade (e também uma referência à personagem bíblica Maria Madalena). Seus nomes e passados devem ser esquecidos e por isso Tia Lydia dá novos nomes como Offred, Ofglen, que denotam o Comandante de cada uma. (Então, “Offred” é “Of Fred” em inglês, ou seja, “De Fred”).

Martha

Martha

Elas raramente deixam as residências, mas podem ter informações valiosas. | Fonte: Divulgação.

Uma empregada doméstica, só podem realizar seus trabalhos dentro de casa. Jamais podem deixar a residências onde trabalham, mas algumas atuam como espiãs de seus comandantes, fazendo tráfico de informações com outras pessoas que frequentam a casa.

Tia Lydia

Tia Lydia

Ela fará tudo ao seu alcance para garantir a ordem. | Fonte: Divulgação.

Seu trabalho é educar as Aias de uma maneira bastante autoritária e fazê-las entender que seus esforços são para o bem da sociedade. Tia Lydia é bastante rígida e podemos dizer que a tortura faz parte das suas práticas de educação. Da mesma forma que os oficiais, podem ser personagens interessantes se estiverem em conflito moral.

Guardiões

Guardiões

Muito cuidado, eles podem estar te observando. | Fonte: Divulgação.

É quase como um segurança privado de um comandante. Tem uma casa na mesma propriedade e alguns deles são conhecidos como The Eye, ou O Olho, que podem dedurar Aias, Martas ou Esposas para a Gilead e assim irão sofrer as devidas consequências. Um guardião também pode participar de pequenos grupos de guardiões, formando um esquadrão ou algo parecido. Podem sair em missões particulares para os comandantes.

Esposa

Esposa

Ela não pode ter filhos e comanda sua casa com mãos de ferro. | Fonte: Divulgação.

Só usam azul (parecem verdes, mas a película do seriado deixa dúvidas quanto a isso), casadas com comandantes e tudo o que desejam, pelos menos na maioria dos casos, é ter um filho pra chamar de seu. No seriado é mostrado que a antagonista principal acaba atuando muito nos bastidores do poder. Porém também entram em conflitos morais muitas vezes.

Comandantes

Comandante

Waterford, um comandante chave em The Handmaid’s Tale. | Fonte: Divulgação.

Oficiais e Comandantes da Gilead. O poder certamente subiu a cabeça desses homens. Aplicam punições às mulheres e rebeldes e, se necessário for, aplicarão inclusive nas suas esposas. Mas podem ser personagens bem interessantes caso estejam em conflito pessoal, e começando a descobrir (e questionar) o quanto essa sociedade é injusta.

Lembre-se!

Seu passado e seu nome não interessam mais. Se você for mulher nesse cenário não poderá ler, escrever ou se dirigir a um homem sem permissão. Se você for uma Aia sua vida piora, porque além de tudo isso você ainda é treinada para engravidar e depois descartada até que possa engravidar novamente.

Quem sabe seu bebê já nasceu e você precisa ir atrás do seu paradeiro. Ou ainda, você foi expulsa e precisa dar um jeito de voltar ou escapar.

Ah, e se você acha que isso é só um conto ou ficção, dá uma olhadinha aqui.

Marina K. Cristo

Product Owner, faixa amarela de Krav Maga e questionadora nas horas vagas. É casada com o melhor mestre de Star Wars e ama de paixão suas vira-latas. De carisma e inteligência fortes, pouca destreza, mas muita constituição, vem trabalhando ao longo dos anos pra aumentar seu atributo de sabedoria e fazer jogadas incríveis na vida.