O fim do mundo chegou. A sociedade como conhecemos não existe mais. As ruas estão tomadas por zumbis e não existe mais local seguro para ninguém. Os poucos sobreviventes do apocalipse zumbi se reuniram em pequenos grupos, deixando de lado suas diferenças, e seguem lutando dia após dia para permanecerem vivos.

Recentemente, a notícia de uma suposta vacina que torna você imune a transformação zumbi tem se espalhado entre os grupos remanescentes. Batedores tem buscado pistas da localização da vacina e, depois de algum tempo, algo concreto apareceu. Parece que um lote está guardado nas antigas instalações de um sanatório abandonado.

Foi com esse trecho acima que iniciamos nossa pseudo aventura na partida de airsoft, que rolou no Área 51 Airsoft, no sábado (26/05). Uma cortesia da nossa parceria com o Adrenalyze. Se você quiser saber mais detalhes, recomendo a leitura deste post.

Para quem não sabe, as partidas de airsoft são feitas seguindo certas modalidades. A mais clássica delas é o Team Deathmatch, o famoso “mata-mata”. Sorteiam-se os times e eles disputam a vitória entre si, eliminando uns aos outros. E dentro de uma modalidade ainda existem algumas variações possíveis como quantidade de vida de cada jgador, regras para voltar ao jogo (respawn) e modo de usar a arma em campo, por exemplo.

Outras modalidades também incluem a captura de bandeira, defesa de base e resgate de refém, só pra citar as mais famosas.

Porém, nosso foco aqui é o RPG, certo? Pois bem, nosso desafio era como interligar as modalidades do airsoft, além da realidade de quem joga airsoft, com o nosso tema de apocalipse zumbi, trazendo elementos do RPG para o jogo.

Uma história simples

Levamos em consideração que,  no dia do evento, haveriam pessoas que talvez nunca sequer tivessem ouvido falar em RPG. Com isso em mente, elaboramos um roteiro que seria fácil de compreender e que possibilitaria algum tipo de interação com os participantes.

Começamos com o plot descrito no início do post. Depois, escolhemos mais 3 modalidades de jogo que pudessem se adequar a nossa história. Sabíamos que a primeira delas seria do Team Deathmatch, pois é nessa primeira rodada que todos ficam conhecendo o campo de jogo e as armas disponíveis. Aprendem a se locomover, manejar o equipamento e principalmente a perder o medo de levar um tiro (que nem dói tanto quanto alguns dizem). Para esse primeiro arco, elaboramos o seguinte:

O seu grupo foi forçado a se mudar de seu refúgio, pois seus recursos estavam acabando. Junto a isso, ainda havia a notícia da tal vacina. Ficar ali por mais tempo parecia inútil. Depois de alguns dias de viagem, vocês encontraram um local que parece ser bastante promissor. Possui água potável, uma área de caça ainda não contaminada e o melhor, ficava a poucos quilômetros do tal sanatório. O que vocês não esperavam é encontrar um outro grupo interessado na mesma região que vocês. Infelizmente não há espaço para ambos e alguém vai ter que sair…

Esse foi o nosso plot para a primeira modalidade. Imaginamos que a história poderia ter rumos diferentes, ou seja, modalidades de jogo diferentes, dependendo do time que ganhasse a primeira partida. Porém, aqui coube a nossa primeira lição: dependendo de quem são os participantes, eles não se importam muito com histórias ou enredos elaborados, mas sim com o tempo de jogo que ainda tem, já que o serviço nesse caso é pago por hora. Isso nos fez mudar um pouco nossa abordagem nas modalidades seguintes.

O resgate do soldado Ryan

Continuando com nossa ideia de manter a história simples, mas ainda assim dando um toque especial ligando as modalidades de jogo, escolhemos “Resgate de Refém” como próximo modo de jogo. Para ligar com os eventos da história anterior, seguimos com essa narrativa:

A batalha foi difícil, mas no final, nosso time conseguiu expulsar o outro grupo que estava interessado neste território. Durante o combate, um dos soldados inimigos deixou vazar um informação muito importante. Na verdade não havia uma vacina pronta, mas sim um cientista que desenvolveu a vacina. Nikolai Barkov. Atualmente ele se encontra nas mãos de um grupo guerrilheiro que o está forçando a desenvolver uma super vacina para eles. Eles devem mudar de local muito em breve e por isso precisamos invadir a base deles e resgatar Nikolai com vida.

Aqui o objetivo de um dos grupos era esconder o “refém” (um boneco de pano quase do tamanho de uma pessoa) em algum local do campo e impedir que o time adversário conseguisse resgatar o mesmo. Já o outro time deveria resgatar o refém e trazê-lo até a chamada safe zone.

Infelizmente, o time responsável pelo resgate não conseguiu cumprir a missão dentro do tempo estipulado, mas eliminou quase todos os adversários em campo. Isso teve um impacto direto na narrativa do jogo, visto que o sucesso dependia do resgate bem sucedido.

Água e comida

Seguindo em frente, nossa próxima escolha foi “resgate de suprimentos”. Basicamente, nessa modalidade os times precisam recuperar itens espalhados pelo campo. Vence a partida o time que conseguir reunir certa quantidade e tocar a sirene antes que o tempo se esgote. Não há a necessidade de eliminar o time adversário, mas… já sabe, né?

Seguindo com nossa narrativa:

Infelizmente os guerrilheiros conseguiram escapar com o Nikolai e sabemos que ele estava ferido ou doente. Como se não bastasse, nossa base foi atacada por alguns zumbis durante a ausência do time de combate. Nem todos conseguiram escapar com vida. Os que conseguiram sobreviver acabaram deixando muitos mantimentos para trás. Um dos nossos batedores disse que havia um depósito de suprimentos do governo nas proximidades e, por isso, antes de nos reunirmos com eles, vamos nos deslocar até esse depósito e trazer o máximo de comida, água, medicamentos e o que mais encontrarmos por lá.

Aqui vale uma observação. Caso o time tivesse obtido sucesso no resgate do Nikolai, nossa narrativa seria outra e a modalidade de jogo também. Aqui entra a questão da flexibilidade do uso do RPG. Como não há certo ou errado nessa história, ambas as situações tinham uma continuação prevista em jogo e facilmente adaptáveis.

Release the Kraken!

Chegamos ao ponto alto do nosso jogo. Durante nosso contato com a equipe responsável pelo Área 51 Airsoft, fomos tomando conhecimento das inúmeras possibilidades que uma partida permite. Em meio a uma explicação sobre o que era o Zombicide, jogo que inspirou nossa partida, e como eram os zumbis desse jogo, descobrimos que no airsoft existem uma coisa muito parecida com a Abominação do Zombicide, algo que eles chamam de Juggernaut.

O “Jugger” é um participante alheio aos times e que entra em jogo para ser vencido ou dificultar a partida. No nosso caso era dificultar. Ele não podia ser morto com simples tiros, ao invés disso ele tinha bexigas amarradas pelo corpo que eram o seu “ponto fraco” por assim dizer. Uma vez que todas elas estourassem ele ficava 1 min fora do jogo, tempo apenas para repor as bexigas e voltar. Nosso Juggernaut não tinha uma minigun, mas ele podia carregar 2 armas e ainda tinha um ajudante, também armado.

Nosso amigo e escritor do UniversoRPG, Ernesto, foi escolhido se voluntariou para ser essa figura. E ele realmente entrou no personagem, gritando e urrando cada vez que encontrava alguém e batendo o pé no chão enquanto perambulava pelos corredores. Foi simplesmente fantástico.

E a história seguiu mais ou menos assim:

O time conseguiu retornar com os mantimentos necessários e assim garantir a sobrevivência de todos. Após alguns dias de descanso, vocês encontram um soldado ferido, o único sobrevivente de uma missão de assalto ao sanatório em busca da vacina de Nikolai. Ele relata que seu grupo enfrentou um tipo diferente de zumbi, muito maior que os demais, mais forte e que mostrava sinais de inteligência. Usaram toda a munição disponível e mesmo assim ele não morreu.

Agora, em posse dessas informações nosso time de assalto vai se infiltrar no sanatório. Nosso objetivo é encontrar a vacina ou a fórmula dela e confirmar a presença desse novo tipo de zumbi.

Essa modalidade foi jogada 2 vezes. Na primeira, todos os 2 times se juntaram para enfrentar o Juggernaut e procurar o item escondido no campo. Na segunda, dividimos as equipes novamente e fizemos o tradicional Team Deathmatch ainda com o “Jugger” em campo, atrapalhado a vida de todos. Foi sensacional!

Diversão garantida

No final do jogo todos se divertiram, tanto pelo jogo em si quanto pelas modalidades escolhidas, bem como pela história que criamos. Conseguimos levar um pouco do lado lúdico do RPG para um público que não está habituado a isso no seu hobby.

Você não precisa elaborar um super roteiro digno dos blockbusters de Hollywood. Veja que usamos conceitos simples para interligar as modalidades de jogo, sem nos ater a regras de um sistema específico. Usamos apenas o conhecimento que temos de filmes, seriados e outras mídias para compor esse cenário. Tenha em mente esses artifícios quando quiser criar ou agregar algo fora do seu nicho do RPG.

Abraço e até a próxima.