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Do Além | Adaptações

O Corvo – Parte 1

O Corvo (The Crow) é um clássico da cultura pop e agora também na sua mesa de jogo nessa incrível adaptação.


Por: Ghost | 09/11/2017

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As pessoas acreditavam que quando alguém morria um corvo vinha para levar suas almas ao mundo dos mortos. Mas às vezes algo tão mau acontecia que uma imensa tristeza era levada junto, e a alma não conseguia descansar.  Então às vezes, apenas às vezes, o corvo trazia aquela alma de volta para que ela pudesse realizar o acerto de contas. 

Aqui no UniversoRPG ainda estamos em clima de Halloween e, como no último artigo publicamos uma discussão sobre como usar personagens mesmo após a morte, resolvemos emendar com uma adaptação deste personagem, que talvez seja pouco conhecido das gerações mais novas, mas tem um excelente potencial em mesas de RPG.

Nessa primeira parte trazemos conceitos e dicas de interpretação. Na segunda parte (em breve!) estatísticas para alguns sistemas e uma ficha-exemplo.

The Crow, de James O’Barr | Fonte: Google Images

“O Corvo” foi uma série de histórias em quadrinhos publicadas pela primeira vez em 1989. Inicialmente foi uma forma de seu autor, James O’Barr, lidar com a morte de sua namorada devido a um acidente envolvendo um motorista bêbado.

Os quadrinhos se tornaram um sucesso “underground”, e renderam uma adaptação para o cinema em 1994, que aumentou significativamente o alcance da obra. Foram feitas três sequências para o filme, além de livros, e diversas outras edições em quadrinhos.

As HQs foram traduzidas para cerca de uma dúzia de idiomas, e venderam mais de 750 mil cópias ao redor do mundo.

Em 1994 a história ganhou uma adaptação para os cinemas, cujo ator principal era Brandon Lee, filho do mestre de artes marciais Bruce Lee. O filme ficou marcado devido a morte de Brandon Lee durante as filmagens em, um acidente com uma arma de fogo.

Para esta adaptação o foco maior será exatamente no filme de 1994, no qual o Corvo era o roqueiro Eric Draven e nas edições dos quadrinhos que deram origem à versão em película.

Espírito sem descanso

NOTA: para efeitos de diferenciação e para evitar confusões de interpretação, chamaremos o espírito trazido de volta de Corvo (ou O Corvo), e o pássaro que o guia para o pós-vida e de volta, de corvo-guia.

Erick Draven, o Corvo | Fonte: Reprodução

Basicamente um Corvo é o espírito de uma pessoa que morreu em condições extremamente trágicas, envolvendo uma imensa dor. Uma dor tão grande que é carregada para o pós-vida, e impede o espírito de ter seu descanso.

Eric Draven e sua noiva, Shelly, são atacados por uma gangue de bandidos logo após seu carro enguiçar. Eric é alvejado na cabeça e fica paralítico, não podendo fazer nada além de olhar enquanto Shelly é espancada e violentada. Os bandidos também a alvejam na cabeça, e ambos são deixados para morrer no meio da estrada. Eric morre na sala de cirurgia, enquanto Shelly sucumbe aos ferimentos ainda no caminho do hospital. 

Caso esse sofrimento permaneça por um ano no pós-vida, o corvo-guia o trará de volta. O despertar não será nada tranquilo. O espírito será trazido de volta para o mesmo corpo que possuía antes de morrer (que irá se regenerar completamente logo após despertar), e deverá abrir caminho para fora da sua sepultura (deixando uma cova aberta para trás). Caso tenha havido destruição completa do corpo (através de uma cremação, por exemplo), mesmo assim haverá a regeneração, apenas demorará alguns minutos a mais, e o Corvo surgirá no local onde a maior parte de suas cinzas foi guardada (caso tenham sido jogadas no mar, por exemplo, ele sairá caminhando da praia).

Rise from your grave! | Fonte: Pinterest

O Corvo acorda confuso, sem lembranças do que ocorreu e sem muita noção do que está acontecendo, mas instintivamente buscará o local onde morreu e, ao entrar em contato com objetos ligados à sua vida passada (ou sua morte) terá flashbacks, revivendo a dor, recuperando a memória e adquirindo consciência de seu objetivo na Terra (note que o conceito de “objeto relacionado à vida passada” é bem amplo e elástico. Podem ser objetos de manuseio, paredes de uma casa ou prédio, ou mesmo um ambiente, como uma clareira em uma floresta). Esse objetivo é sempre a vingança. O Corvo perseguirá e eliminará, um a um, todos aqueles que considerar responsáveis pela sua morte.

As habilidades e poderes do Corvo podem ser resumidas em:

  • Força, agilidade e velocidade ampliadas
  • Reflexos Felinos
  • Sentidos Ampliados
  • Fator de cura acelerado*
  • Resistência a dor e a ferimentos
  • Telepatia e empatia táteis (nos dois sentidos)
  • Visão através dos olhos do corvo-guia
  • Habilidade de se transformar em um corvo (ganhando capacidade de vôo e visão noturna).

* Na verdade o personagem pode ser considerado imortal. Ele sempre vai se regenerar, não importa quanto dano leve. O Corvo não terá descanso enquanto não cumprir sua vingança. A única maneira de destruí-lo é, na verdade, matar o corvo-guia (que estará sempre vigiando, mantendo o Corvo dentro de seu campo de visão).

O animal é a chave do poder do Corvo | Fonte: Pinterest

A única fraqueza d’O Corvo é exatamente o corvo-guia. Apesar de se tratar de um animal místico ele é fisicamente e fisiologicamente idêntico a um corvo comum e, portanto, igualmente frágil. Tecnicamente o corvo-guia pode ser morto com uma “estilingada” bem dada. Por esse motivo não é saudável que a conexão entre o espírito de vingança e seu animal guia seja descoberta. Como se trata de um fenômeno bastante raro dificilmente essa conexão será óbvia, e mesmo personagens com forte ligação ao oculto precisarão de testes difíceis para saber disso.

Em todos os casos o Corvo deve permanecer focado em sua vingança. Caso ele saia de sua missão, por qualquer motivo, começará a perder seus poderes, e voltará a se decompor rapidamente. Em 24 horas estará de volta ao mundo dos mortos, e penará eternamente em seu sofrimento, sem novas chances de acertar as contas com seus algozes.

Na maioria das vezes o Corvo funcionará melhor como NPC, mas nada impede de permitir que o personagem de um jogador volte do mundo dos mortos (na verdade pode ser uma ótima ideia de “pausa” em uma campanha, abrindo uma história paralela).

Por hoje é só, amáveis leitores. Em breve, a segunda parte do artigo, com adaptações específicas para alguns sistemas, regras e fichas de personagem.

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Henrik “Ghost” Chaves

Henrik “Ghost” Chaves é fã de D&D (mas acha que a edição 3.5 foi a melhor de todas) e de tudo relacionado aos Mitos de Cthulhu. Música (rock), literatura (fantástica), cinema (pipoca) e boardgames (modernos) estão entre seus outros hobbies.